Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de dezembro de 2008

Você (Meu Ano Novo)

guarda-chuva quebrado
vela derretida
café gelado
óculos sem grau

sorriso sem dente
flores no asfalto
crente descrente
jaula sem animal

morte sem nome
lápis sem cor
comida sem fome
luz artificial

rádio calado
vida de aborto
inferno sem diabo
pedaço de carne

eu,
quase morto

você,
meu ano novo

Cama de Micróbio

Sempre me considerei uma pessoa humilde, mas nunca fui uma pessoa tolerante, que pede desculpas... 2008 foi isso. Foi uma grande lição de um monte de coisa que acompanha humildade: tolerância, paciência, reconhecimento dos erros e acertos. Incluo acertos nisso tudo porque também não sabia reconhecer um acerto e dizer “caraca, acertei nisso, agora é só fazer sempre assim”, no no no, eu penso muita coisa, menos nessas coisas. E penso em mim somente para analisar ações negativas.

Foi um ano de aprendizado e crescimento, não posso dizer que foi ruim. Foi, mas não mais que os anteriores, e dessa vez, a conclusão do ano não acompanha remorsos, eles foram abatidos durante os dias. Muitos contratempos, muitos. Com amigos, com colegas da faculdade, com o trabalho, com a família, com a ex e a atual namorada, com tudo que me cerca. Mas dessa vez eu senti maturidade pra explodir e remontar as coisas ao meu redor, se não deu certo, é porque estou aprendendo ainda, não sou gênio pô! Mas tentei, olha a novidade!

Retomei velhos conhecidos com novos conhecimentos. Amigos e velhas intrigas que não fazem mais sentido. Deixei meu orgulho de lado, quero que ele e o superego se fodam! Voltei às raízes do que realmente me importa, me conheci e me vi de outras formas. Vacilei, mas não pisei na bola, acho que isso é o mais importante.

Pro ano que vem na sequência, eu quero o que estou desejando pra todo mundo: paz de espírito e equilíbrio. Quero me arriscar mais, e fazer mais, produzir mais, conhecer mais. Experimentar mais e mais, mas sem deixar o que já tenho ou sou pra trás.

O que eu sou eu soul e se eu um dia mudar, é porque já venceu e pode jogar fora.

Agradeço a todos que fizeram isso possível e me ajudaram a superar um ano que era pra ser dos mais difíceis e aterrorizantes da minha vida: Branca, Alice, Gabriel, Nax, Micha, Bininha, Tor, Pupo, Mathio, Perna, Argentino, Nina, Vans, Fel, Tejano, Thaís, Eduardo.

“Cama de micróbio é caixa de papelão” foi a maior lição deste ano. Essa frase fechou o ano num ótimo dia, feliz e ensolarado entre amigos vadios. E fez todo o sentido pra mim, significa exatamente o que já expliquei no decorrer do texto até aqui.


*Cama de micróbio é uma música do Ventania, quem quiser é só pedir que eu passo ou posto aqui.

2008

Meu 2008 está em ruínas.



Para 2009, quero o castelo de volta.

25 de dezembro de 2008

Natau com Nescal

Esse foi diferente. Mais pra frente, com menos gente. Menos família.


Mais falta, mais radical.

23 de dezembro de 2008

Segredo

Todos os cães do mundo são meus, mas eles não sabem disso.
Não sou dona de nenhum, mas são todos meus...



... meus amores.

Passarinho

Não me lembro como começou, e não sei como vai acabar. A única coisa que sei é que a despedida com um tchau (e não um adeus) sempre termina num abraço... Longo e demorado. E nos abraços eu sinto sua sinceridade, porque ela me confia seu corpo franzino e gostoso e se deita sobre mim. E não tento decifra-la, porque está ali quando está ali e basta.

Uma graça e uma delicadeza sem igual, de um sotaque charmoso e sedutor que só os brasilienses têm. Veste cores e detalhes únicos dela, quase clichê. Quase. Toda vez que a vejo me apaixono e me derreto todo - com muita discrição, claro. E quando vai embora, simplesmente vai cantar por aí. E eu vôo.

Não sei o que é, quando chega é ela, quando vai, é ave. Tenta ser peixe, mas é mais, peixe fede. Ela é carinho.

Enquanto muitos passarão, ela passarinho. E voa, voa, voa, voa...

22 de dezembro de 2008

2.2

Todo ano é a mesma coisa, virou tradição. Quem não se vê, nem ao menos se fala durante o ano todo, hoje é o dia de matar as saudades. Algo sempre muda, um cabelo, um jeito de falar, um vício, mas o templo é sempre o mesmo, enfeitado com carinho e aconchego. Sempre que venho pra cá sou recebido com sorrisos e novidades. É uma data especial.

Arrumamos as malas, colocamos tudo o que nos importa dentro: roupas, escova de dentes, desodorante, presentes; e saímos em clima de férias em direção ao lugar. A única regra é rever quem não vemos há tempos, celebrar e dar risada.

Todo fim de ano é isso, ficamos aqui de bobeira, bebendo e comendo a vontade, dando um tchauzinho a mais um ano que passou, no caso, 21 já se passaram. Não é a comemoração de Natal, muito menos Ano Novo, é algo maior e mais importante, um Feliz Aniversário.

Que neste ano você seja muito feliz e realize algumas conquistas (só algumas porque senão nos outros anos não vai ter nada pra realizar e aí a vida vai perder o sentido, você vai se matar e daí ninguém mais vai se reunir e vai ser uma bosta!); que continue sempre com esse espírito jovem e esses piercings sem motivo que daqui um mês você vai enjoar; que eu não tenha que ouvir Rihanna nunca mais... Pelo menos até o próximo encontro.

20 de dezembro de 2008

A Clace Palled Home

Antes eram gritos, e ecoavam pelos corredores do auto-intitulado "lar". Agora já não se ouve quase nada se não prestar atenção. Procure nos cantos, é de lá que vêm os gemidos. O que mata as plantas é o sal das lágrimas. E estamos todos morrendo, como ela(s). As sombras não são nada além de espíritos divagando tão perdidos como qualquer um que eu possa ver. Mas não quero ver ninguém, não quero nada. Queria que tudo fosse embora.


Ela diz exatamente tudo que eu sinto. Mas ela não sabe, e está sentindo agora o que sempre viu em mim e ignorou, fingiu não ser nada. "Não é nada!". Assim, simples, cinicamente acreditando nela mesma. Tem o dobro da minha idade, talvez mais. Nossa diferença é que ela não viveu, enquanto eu luto para não sobreviver. E como pode se abrir tão facilmente daquela maneira? Quase sinto inveja se já não sentisse outras milhões de coisas por ela. Meu pecado é desejar que fosse muda toda vez que grita. Então choraria em cima dela. Queria que ela fosse embora.


Minhas dificuldades aumentaram porque tentam tampar minha visão. Meus olhos que nunca olham o que está, porque a cabeça quer que (a)voe, e o coração. Seu "lar" na verdade nunca existiu, e se existiu, nunca fiz parte dele. Como eu posso chorar por alguém que nunca amei? E ninguém ouve meus pedidos de socorro abafados pelos seus.



...socorro...










...socorro...













...Adeus.

19 de dezembro de 2008

Conversa de Bar


- Analisa comigo: As pessoas reclamam disso e daquilo sobre tudo, já percebeu? Só que não vejo ninguém fazendo nada!
- Ninguém faz nada! É uma acomodação do caramba, pra não falar outra coisa.
- Cara, pega a situação do lixo, por exemplo...
- A situação do lixo é ridícula.
- E outra, já reparou que quem mais reclama é quem mais joga lixo?
- Mas é! Os favelados, por exemplo, entopem a cidade de lixo depois vão na TV reclamar do governo. Pergunta se eu assisto um programa desse? Pra passar nervoso? Nãããão, parei.
- Cara, pobre é o seguinte: vive dizendo que não tem nada, não tem nada e não tem nada. Aí dá uma enchente e falam que perderam TUDO! Como assim?! Hahaha

Os dois gargalham, e logo em seguida, enquanto um acende um cigarro o outro joga uma bituca no chão.

- Ai ai...
- ... É... Demorou muito pra chegar?
- O quê?! Claro que demorei, com esse trânsito! Isso porque eu moro a 5 minutos daqui do bar hein?! E pra estacionar? Não dá, não tem mais espaço nessa cidade do inferno!
- Não tem, tá tudo um "caos caótico". As pessoas deveriam parar de comprar tanto carro, ou então sair daqui. Esses baiano deviam voltar pra terrinha
- ... Maior poluição, o ser humano destruiu tudo já. Dos nordestino nem falo nada... Povinho sem-vergonha, sem cultura, vem aqui só atrapalhar.
Assobio - Ô Cadu, Vê mais uma loirinha bem gelada dessa aqui.
- Rapaz, quero ver pra chegar em casa hoje hehehe.
- Pára, você mora a 5 minutos daqui e eu também moro pertinho, vai acontecer nada não. 'Cê não se garante não?
-Opa, claro que me garanto, tá me tirando? Mas eu tô bem.
- 'Cê tá bem mesmo... bem louco!

Mais gargalhadas.

...

- Ih caramba, olha a banca ali pegando fogo.
- Aonde?
- Ali do outro lado da rua.
- Eita, tinham que aproveitar enquanto o fogo tá pequeno e apagar isso aí...
- ... É, daqui a pouco o fogo espalha e não tem mais jeito.
- E olha aí, ninguém vai fazer nada?!
- "Prucê" vê rapaz, olha o tanto de gente vendo a desgraça e ninguém faz nada.
- Ninguém se mexe... Tô falando cara, esse país é uma merda, ninguém faz nada sobre porra nenhuma.
- Por isso que o Brasil não vai pra frente!
- Por isso.
- É...
- ...Pois é...

...

- Vâmo tomar mais uma?

13 de dezembro de 2008

Deserto Azul

Eu me sinto vazio. Minhas roupas mudaram, os lugares, as companhias, as conversas. Tudo mudou. Mas o vazio permanece aqui, preso no meu tempo, dentro do deserto da ampulheta.

Eu me pergunto “o que é real?”, se tudo é a representação simbólica de mais tudo? Como ser real nesse deserto atemporal? Simbolicamente atemporal apenas. Parece que o tempo não se mexe e que nada é novidade. Até notarmos que já estamos velhos e desgastados pelo mesmo tempo que dizia não passar; corrompidos pelo mesmo mundo que dizia ser bom, sujeitos a uma vida miserável e medíocre que nos fazia promessas açucaradas.

As lembranças parecem ondas salgadas e espumosas. Quando fecho os olhos, sinto o relógio ir parando, lentamente, prolongando o segundo, um tic batendo no tac, ecoando em minha mente... vazia, fazendo tudo girar numa onda lisérgica. Quando abro, pronto, já foi um ano e outro ano e outro e mais outro e mais... Às vezes a cegueira é dádiva, por isso sonhamos de olhos fechados.

A areia corrói e se movimenta. O deserto é alquimista e (se)transforma. Eu permaneço aqui, preso na ampulheta, gritando por socorro enquanto as areias do tempo calam minha garganta. As areias azuis do tempo... Às vezes eu acho que é só um sonho. E se eu acordar, pra onde vou?

Sempre ouvi que os desertos se expandem e caminham. Fico me perguntando o tamanho do meu deserto, se ele é tão maior que eu, e se algum dia ele irá caminhar pra outro lugar.


Só o que está dentro de mim é real. Eu preciso sair da ilusão do Eu.

12 de dezembro de 2008

Fruta Vermelha

Encheu o mar de sangue. Cobriu o azul silencioso com a tormenta de uma voz que sussurra baixinho em meu ouvido esquerdo. Chorou as lágrimas do mar e me banhou, seguindo a tradição de purificar e me dar a bênção.

O fundo do mar é segredo. O tempestuoso tornado é invisível a olhos nus, a não ser que tenhamos coragem de mergulhar bem fundo. E temos. Palavras entre onda e outra me invadiam, calavam a minha boca sem me tocar. Mas não sou impenetrável, não tento ser. Não mais. Mas às vezes acho que meu sangue é óleo. Às vezes tenho certeza.

Veio até mim, quando se forma é uma onda turbulenta que derruba e balança e afoga e agora(?). Agora é raso, é marola... Mas por que ainda engasga e sufoca? Por que a areia é movediça e traiçoeira? Nenhum lugar é terra firme abaixo dos meus pés. Minha cabeça às vezes acha que voa. Muitos ainda atravancam meu caminho. Eles acham que sou passarinho, mas enquanto outros passam, eu rastejo por não ser tão leve e livre. Não passo nem vôo, não fico nem vou. Não era, nem sou.

Sou um pirata do mar de sangue. Da fruta vermelha secreta do mundo, no fundo do oceano, pode escolher um, todos têm, eu nunca me engano. Seu coração é minha bússola, que eu atirei à sorte aos sete mares na esperança de um dia poder reencontrar. É por isso que pouco escrevo sobre você, para não fazer chorar, muito menos fazer sofrer. É difícil, eu sei que é, mas é preciso ter fé. Pirata é malandro mesmo com a instabilidade no pé. Um dia encontro terra firme se assim os deuses quiserem, se minhas pernas permitirem, se minha coragem alcançar... se um dia eu pegar de volta minha guia, aquela fruta vermelha do fundo do mar...

11 de dezembro de 2008

Fundo do Mar

Náufrago de uma vida em paz. Meu germe da destruição já corroeu meus órgãos, corre em minhas veias e alimenta meu coração. Meu espírito nada diz, e minha boca se tornou só um instrumento que consome.

Você foi até o fundo resgatar o resto perdido que sobrou de mim. Eu já estou acostumado com toda essa atmosfera sem gravidade, de sons abafados e estalos nos ouvidos por causa da (de)pressão, mas você não. E se afogou junto comigo.

Não vê que sou pesado demais? Eu sou só uma vibração sem sentido. Anda, solta minha mão e nade até a luz da superfície. Vai, me deixa aqui, eu não pedi pra sair! Solta a minha mão e nada, porque aqui... nada vai.

10 de dezembro de 2008

Lar Doce Lar

Longe de casa, vendo tudo tão distante, mantendo certa distância. É como me vi por todo esse tempo que fiquei longe (ou simplesmente distante). Precisei correr sem direção e atirar em todos os anjos da salvação. "Me deixem cair, me deixem morrer aqui" eram minhas palavras que feriam mais que qualquer bala perdida. Um Eu perdido.

É estranho nossa primeira "briga".

Mais estranho ainda é eu me reconciliar com mortos. Mortos que eu matei e que ressucitei porque me foi dado o direito. Um direito divino e sem preço.

Eternamente grato a nossa primeira "briga" ainda mal-resolvida, mas melhor esclarecida.

Eternamente grato por poder voltar no tempo e arrumar os erros.

Eu só queria vocês por perto de novo. Às vezes é bom ter alguém pra nos ouvir gritar por socorro. Assim como também é bom socorrer. Agora que tudo foi perdoado, podemos esquecer. Me ouvi dizer sinto muito e obrigado da parte sincera que eu não conseguia encontrar e agora encontrei, pois estava nos seus braços e não vou mais soltar. Você já sabia, e agora eu sei.

Lar doce lar, o Wonder me faz muita falta, assim como tudo nele contido. Eu quero voltar, mas quero que você esteja aqui comigo. Tentei outros lugares, mas só me perdi dentro da minha ilusão. Quero voltar, quero tudo como antes, senão não faz mais sentido.

9 de dezembro de 2008

Hora Marcada para o Chá


Não conseguia me lembrar que horas eram. Tenho relógios espalhados pela casa inteira, cada um com um horário diferente e insignificante. Era quase hora do chá, que desastre, não tinha nada preparado. Tudo combinado, mas nada preparado, ultrajante!


Corre daqui, põe a água para ferver, saiam da frente, tenho que correr. Falava sozinho minhas besteiras e me perdia no meio dos caminhos da palma da minha própria mão... Novidade!... Torradas? Torradas, torradas, tem aqui em algum lugar, em algum armário. - Cuidado! - eu gritei lá da sala, e todas panelas e tuppewares caíram sobre mim. Como é difícil tampar uma tupperware, tão difícil quanto escrever seu nome.

Forma untada, massa pronta, torta no forno. Eu não sei fazer torta, não, eu não. Não mesmo. Mas a Rainha de Copas tem uma mão boa, ah sim, ela tem sim, ela tem.

"A Rainha de Copas fez uma torta certo dia de verão.
O Valete de Copas roubou as tortas sem nenhuma hesitação...".

Até que foi rápido, mas olha essa bagunça! O bule estava apitando e eu não tinha separado, sequer escolhido, as ervas ou flores ou raízes. Hmm, qual seria, qual seria...? Darjeeling? Não, muito íntimo e pesado. Jasmim? Nah, muito romântico. Um chá amarelo imperial talvez? Já sei, massala chai, perfeito! Com noz moscada ou canela?

Toc toc.

"É tarde. É tarde!" gritou o Coelho. Saia da minha frente, anda, me deixe passar. "Você está atrasado". Droga, já chegou. Quero dizer, ótimo. Mesa quase pronta, xícaras, torta, torradas que foram substituídas por bolachas amanteigadas. Corre aqui, limpa ali. Vai, enfia essas coisas em qualquer lugar, temos visita, o que vão pensar se virem bagunça? Que não são bem-vindos, depois de tanto tempo...

Toc Toc.

Calmaí Allan, já vai, já vai. Me ajeito, tomo jeito, compostura de quem está esperando quase no tédio. Abro a porta e... Oh, é você? Nãonão, estava esperando sim. TE esperando. É que tudo estava tão corrido, tão turbulento, não sabia qual torta, que chá servir, não encontrava as torradas (malditas torradas!), me perdia e me encontrava aqui dentro. Mas você está aqui. Não te esperava agora, não, agora não, mas não teria vindo em melhor hora.

E agora estou mais calmo.

3 de dezembro de 2008

Mariposa

Eu acabo de matar um inseto. Estou me sentindo horrível. Beirando o lacrimejar. Ele não era um inseto malvado, daqueles que destróem as casas, aqueles cupins malditos. Nem um inseto que pica, que perturba o sono. Tão pouco aquele que você mata e faz barulho, ou sai meleca de dentro. E também não era os de banheiro, cujas larvas vivem no chuveiro.

Eu matei ele e ele ficou aqui sofrendo. Mexendo algumas das patas, as antenas também se moviam. E foi só quando coloquei meu terrível dedo sobre ele que percebi meu erro: ele era macio. Ele estava confuso, perturbado, voava e caía antes do dedo maldito. Sofreu e eu decidi acabar com isso, uma maldade basta, não podia deixá-lo sofrer mais. Ele grudou no meu dedo. Grudou no dedo assassino e não na mesa! Não saía do meu dedo, ficou lá, morto...

Agora tem um cadáver no meu quarto, atrás da mesa. Só uma quina pra tirá-lo do dedo criminoso. Ah, pobre maripozinha... gosto tanto de mariposas. Estou tão triste. Acho que vou chorar.

TOC, toc, tem alguém aí?

Eu não gosto de mudança, sou medrosa, não arrisco nada pra não mudar o que eu já estou tão bem acostumada com. Maaaaaaaaaaaaaaaaas, ah!, mas esse ano estranho, me virou do avesso. Meu cérebro ficou pequeno e meu coração grande.

Por isso brigamos. Mesmo estando meu coração inflado por outras razões, nada a ver conosco, não deixou de ser inflado pra minha vida como um todo. Tudo doeu mais, ficou maior do que era. Foi ruim, machucou, não me importei, ignorei, lembrava sempre e senti saudades. Credo.

Péssimo eu só mudar quando os outros mudam. Eu não brigo com os outros, mas faço de tudo para que os outros briguem comigo, para daí eu poder brigar mesmo. E não me acalmo (pelo menos não mostro que me acalmei), até que os outros se acalmem.

Eu estou calma, e você?

27 de setembro de 2008

Castigo

Eu vejo tudo em câmera lenta
Os carros se movem tão devagar
O Sol não quer se pôr

Eu vejo quando você não aguenta
Por eu não querer ajudar
A curar minha dor

É insuportável
Saber que toda alegria
É de todo mundo menos minha
É insuportável
Carregar sozinho dentro de mim
Essa melancolia
Inexplicável

Eu quero chorar
Por que eu não consigo?
Eu quero acabar comigo

Atirem em mim
Cuspam em mim
Abusem de mim
Façam o que quiserem
Eu só quero sair do castigo

24 de setembro de 2008

Crepúsculo do Ocaso [Outro]

Não havia mais dor
Tudo fazia sentido
Imaginava no caminho
O que teria acontecido

Acordou achando tudo mais bonito
Marcou novas pegadas em equilíbrio
Havia finalmente encontrado
A última peça do quebra-cabeça
O que havia esquecido
A saída do labirinto

Algo estava esquisito
Desfez suas pegadas
Lembrou-se de sua história
Na saída do labirinto
Seguiu de volta às suas memórias
Bagunçou todas as peças
Engoliu os próprios dedos
Lembrou-se daquilo que não ri

No crepúsculo do ocaso
Tomou de volta seus medos
Deu meia volta e voltou a si

Crepúsculo do Ocaso [Tudo é Muito Bonito, Mas Sei Lá]

O mar estava sem ondas e o sol não estava tão quente. Era um fim de tarde de outono como outro qualquer. Na areia, todo o seu caminho percorrido em pedaços de pegadas que viriam logo se desmanchar entre os grãos, seus cabelos emaranhavam com o vento forte a seu favor. Tudo parecia a seu favor.

Estava diferente, percebendo cores e sorrisos. Se via no espelho d'água e aquela imagem parecia fazer tanto sentido... Parecia fazer sentido, tudo era muito bonito. Serenamente, deitou-se para ver o crepúsculo do sol e descobriu o quanto viver vale a pena. Não se sentia só naquele ocaso, e se sentia. Mais próximo de Deus.

Calmo como o mar, seguiu seus passos de volta, sem mais zigue-zaguear em confusões. Tinha encontrado finalmente a saída do labirinto, a última peça do quebra-cabeça que havia perdido em suas desordens banzeiras.

Ouvindo canções lineares, desfez todo o caminho se jogando na areia, agitou o mar e ofendeu as estrelas ainda novas. Rasgou, mastigou e engoliu a peça que faltava, fechou a porta do labirinto se trancando do lado de dentro e apagou as luzes. Já não era tão belo, mas seu sorriso era muito mais sincero. Tudo é muito bonito, mas sei lá.

Alice,

porque eu confio em você.


19 de setembro de 2008

...Paz na Minha Solidão




O mundo está acabando
E logo vamos à Marte
O café é descafeinado
Violência por toda parte
E eu aqui esperando você chegar

Deus pediu as contas no reality show na TV
Celulares fora de área
O silêncio não pode mais dizer
Assistimos via satélite
Na internet,
Todo mundo morrer

Corpos e destroços por todo o caminho
Não se ouve a paz
Cristo viveu pouco demais
Eu vou morrer sozinho

Pensar é obsoleto
Um copo de cianureto
Enquanto espero você chegar

Estrelas-cadentes invadem os céus
Eu descoberto esperando ao léu
Dizem que estou desprotegido
Que eu deveria procurar abrigo
Mas não se escapa da fúria do criador
Dizem que o fogo é quente e destruidor
Dizem que hipnotiza e enfeitiça como o amor

No fim todos procuram salvação
Correm sem direção
e se encontram no abismo
Eu só quero paz na minha solidão

Eu sei que te encontrarei lá embaixo
Mas você ficou de me encontrar
Não estou me escondendo
Estou apenas esperando você chegar




"Não enfrente montros sob pena de te tornares um deles. Lembra-te: se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla."**



* Desenho de SiClark
** Friedrich Nietzsche. Fritz para os mais íntimos.

16 de setembro de 2008

1/2

Não é a sua vez de falar agora?

Me olha com meio sorriso, me desfaz de meu abrigo. Tudo o que eu quero sentir é que eu sou apenas real, quero me sentir comigo. Vá em silêncio, sem meias palavras. Contorna verdades meio encabulada. E ninguém me responde... De quem é a fala?

No meio de tudo tem o nada; que tem uma estrada deserta, no meio, pontilhada. Uma tesoura que me rasga ao meio, sangra meus segredos, me desliga da tomada. Ando meio desligado, meio sem fronteira, sem barreira, infinito. Seu coração pode conter tudo que não foi dito?

Eu me sinto como uma vibração. Uma corda que bate forte um contrabaixo, arrancando unhas e fazendo crescer a raiva conforme eu cresço. Então eu raxo e quase desapareço. Ando a meio passo, meio acorde, e cresço só metade. Me sinto no meio do nada, no meio de mim mesmo, com meia idade.


De quem é o silêncio? Do medo e vaidade; ou da vergonha e do receio. Mas mesmo assim, assim mesmo, tudo meio a meio.

15 de setembro de 2008

The Memory Remains


Passeei pelo passado, retomei memórias deixadas de lado, lembrei de quem eu amava... E nesse furacão nostálgico, me senti perdido, sem história, sem pertencer a nada. Derrubei tudo que havia construído, ou por medo, abandonado. Agora só restam as ruínas do que um dia foi, um dia.

Espero que meu espaço tenha sido preenchido com coisas melhores, como eu não soube fazer. E que as marcas que eu deixei sejam boas, cicatrizadas. Feridas abertas só inflamam, a gente acredita naquilo que quer acreditar, e o cérebro molda o que queremos. A mesma história em várias versões. No fim das contas, é só isso.

Hoje me arrependi tanto, talvez porque hoje tirei o dia pra pensar, pra visitar, pra olhar pra trás e tentar me procurar. Mas não sentiram minha falta, e só deixei a guerra. Assisti a minha decadência sem história. Talvez tenha sido melhor assim.

Hoje falei sozinho, conversamos muito. Admiti erros, mas uma coisa que nunca fui foi traidor, e isso todos têm que admitir. E na minha cabeça tudo gira desordenadamente sobre o que fazer. Eu nem tenho mais vontades. Hoje freei minha vida e percebi que só estou sendo empurrado pra coisas que não me dizem respeito. Pra longe do abismo, por puro egoísmo. Será que ninguém me quer feliz? Me deixem ser feliz! Eu queria que tudo acabasse logo, como um sonho...

03.09.08 / 15:55

11 de setembro de 2008

Vida



























Minhas palavras são gargantas cortadas. Eu me sinto tão envergonhado em falar. Qualquer palavra dirijida, tantas coisas erradas. Uma pilha de ossos é construída, lentamente em meu caminho. falo falo falo, Falo sozinho. Isso é a vida.

Olho no céu, os holofotes procuram os espíritos dos pássaros que deveriam voar. Ninguém sabe explicar, ninguém consegue dizer. Como podemos esquecer, mas não perdoar?

9 de setembro de 2008

O Diário de Allan

Ufa, até que enfim estamos de volta. Estava de férias com o Allan e fizemos um diário:

04 Julho: No acampamento, Allan arranjou uma bandeira gigantesca dos Estados Unidos. Como havíamos esquecido nossos cobertores, não íamos mais passar frio. Limpei meu cú com a bandeira e Allan a comeu. Ainda usamos o pano patriótico como toalha de mesa e fizemos uma fogueira. Não passamos frio.

07 Julho (3h22): Allan acordou agitado e se debatendo, foi até o rio e chorou porque não enxergava o próprio rosto no escuro. Me convenceu a chorar porque também não conseguia vê-lo, nem a mim. Choramos com olhos ausentes.

08 Julho (16h): Montamos uma fortaleza feita de terra. Revelei que tinha medo da Morte. Allan começou a cavar e comer a terra e esticou a mão me oferecendo um punhado com aqueles olhos pidonchos: "Coma a terra antes que ela te coma e não mais temerás" - Estava faminto.

14 de Julho: Estamos em guerra, é uma emboscada, fujam todos!!

17 de Julho (9h): Onde estou? Quem sou eu?

20 de Julho: Tudo está conforme o planejado, aniquilamos o inimigo e temos comida para mais uns 18 dias. Eu estou ferido, mas estou bem. Brincar é coisa séria por aqui.

22 de Julho (0h21): Ontem eu ganhei uma festa surpresa com direito a fogos e uma viagem espacial e tudo mais. Respirar uma estrela é muito legal, estou brilhando no escuro até agora.

25 de Julho: Hora de arrumar as malas, Allan não acredita em malas, nunca sabe o que trazer, então não trás nada. Ficou pelado a maior parte da viagem. Fiquei também até enroscar meu pinto num cacto, tive que arrancá-lo.


26 de Julho (12h12): TCHAU!
Allan: OI!
Tudo bem, depende do ponto de vista.

27 de Julho (voltando pra casa): Allan me mostrou o que sabia de inglês:
- Câmon Éllan iú fóquin bíti, transleite vaqueition.
- Vacação!

30 de Julho: Ficamos indiferentes na casa do Allan, como se nada tivesse acontecido. O efeito tinha acabado e nos voltamos para nós mesmos. Allan não demonstra emoções, e é muito difícil decifrar seus sentimentos por conta disso. Mas não sei, ele me olhou tristemente hoje. Acho que a culpa é minha.



Novidades [o]

Depois de longas férias, voltamos! \o/

E com algumas novidades: agora temos Marcadores que ajudam a encontrar portas no labirinto, e o Wonder World, que mostra quem também atravessa o espelho ao redor do mundo, e a nossa apresentação, que não serve pra nada mas é legal.


Então sejamos todos bem-vindos de volta, voltem sempre (ou não saiam mais).

8 de setembro de 2008

300


Uma palavra para cada post até aqui:

Testando alto Batman impressões perguntas. excêntrico desconhecido olhos tristes morrer. apatia dor vivo caminho felicidade distância suficiente nóz. fantástica lata querer histórias oz ser, escrever, rezar? Informações broken incomoda, péssimo acidentalmente controle consciência. buraco real acredito. existe sádico orgasmo ar, amo espaço, adeus discórdia. conseqüência, sorry, desistiria orgulho lembranças. obrigada. imagem areia pseudônimo ferida perplexia indivisíveis. nada brinco incontrolável, suck pensar cu recuperar estopim limite, lágrimas, acaso, medo. culpa problemas punheta fogo resposta, você metáfora. galhos. maldições estranha desabafar, detentores us clarificado, verdade, essencial valor. foguete ditadura afogando querido fedida sorri ruim. conselhos ela longevidade vagina deprimido, minha tempestade, suplício merda passado. something too. confio imaginários nostalgia vida lamúrias. feel rabbit socorro crazy comigo. fruto sorriso, medo sorrisos sonho controlar instabilidade. dream momento Deus falar inspiração, seja complexa disseminar escolha direção, imaginar book passou preciosa, apaguei. frozen nunca. moonlight, flores, perdão, lembrar incapaz crise não inevitável. somos deixo inteira outro Estante cinza leve melhor desculpe imaginário destaco ódio ufa! Cínico disse capítulo falseamento derrete cartinhas vida venceu desagradável pulei comer visões sorte nude chuva vejam pretended desnorteada inventadas sozinho intimidade assassinatos encontrei deixa oi branco-sujo foge poço procuro primeira descer companhia sonho cúmplice rascunho distancio luzes contrário invadem muita bom com manter vingança acontece estômago tudo almoço rochas safado tesoura are mar mais trilha batido guardado caderno ama traguei mentira aguçaram única feliz débil vou passado sou sobra restou afago else real costurando banco sangue beber inacabada dia embora desaparecera nunca queria tiro porque costume mesma nós terra inóspito tampouco canto delírios acordei ninguém não missão rainha velhice passo miligramas molhe cruel murchar outono falar perguntei desiguais feitas quebrado colo fal(h)ei culpa obrigação perdoe tenso odiando come suei semelhanças desistir aproxime-se doíam lá sem preguiça erra presentão keep geléia fiz futilidades regra enganando imperceptível impede vozes frases oposto mudei.



Yu & Alice

25 de julho de 2008

Nada como antes

Enquanto para você as coisas voltaram a fazer sentido, para mim estava tudo mudado. Havia tempos que isso já estava certo, mas só cara a cara percebemos claramente o quanto se tranformou.
Eu mudei. Mudei muito. Reli minhas palavras... de quem eram aquelas palavras? Não me reconheci nelas, como mente criadora. Nem ao menos lembrava-me de tê-las escrito. São muito bonitas, tocantes, mas de outra pessoa que não está aqui. Se isso é bom ou ruim, não sei.
Por outro lado, você, nada mudou. É o mesmo em cada linha. Parecia que eu lia o mesmo texto, toda hora. Só em momentos, você saía da sua caixa, brilhava um pouco mais, porque tentava algo diferente. Mas ainda sim... era você do começo ao fim. Uma identidade... mas até que ponto isso é bom ou ruim, de novo, não sei.
Brrrrrr!

23 de julho de 2008

The Taste of Life

Eu olhava marcas novas no tecido cada vez mais velho. Vinte e uma marcas feitas sem precisão na única pretensão de excomungar o mal. Tudo começou no metrô, quando vi minha alma saltar de meu corpo, pegar um trem com destino ao lado oposto (a propósito, ela deve ter levado minha carne também, porque eu me tornei tão inóspito e cinzento quanto São Paulo - mas não tão grande - e ninguém mais me percebe.)

Corro a minha procura. Me encontro mas não me olho nos olhos. Sigo distante. Sigo pegadas nas paredes e teto, a gravidade é ignorada, ela pouco importa. Erroneamente deparo com o espectro de alguém prestes a morrer, como um espelho, e o gosto de doppelgänger¹ me arrepia os pêlos. A matéria é ignorada. Ela e eu. Eu, eu.

Todos temos nossa metade má. Eu me perdi em qual lado fica a minha, e machuco uma metade na esperança de afastar o mal. Eu não sei se a força que corta é a que exila ou a que produz a maldade. Se eu pudesse matar o mundo inteiro, eu faria, mas estou ocupado demais tentando acabar comigo mesmo. Eu sangro o gosto da vida. Eu bebo e me engasgo. Eu não sei em quem atirar. Eu só tenho uma bala e é hora de escolher. Eu ou eu, em um dos lados eu acerto. Enfim, viverei uma metade em paz.

"Nele o homem e o lobo não caminhavam juntos, nem sequer se ajudavam mutuamente, mas permaneciam em contínua e mortal inimizade e um vivia apenas para causar dano ao outro, e quando há dois inimigos mortais num mesmo sangue e na mesma alma, então a vida é uma desgraça."²






¹. Entidade do folclore alemão que se assemelha a um fantasma, mas trata-se de um espectro que é o duplo de alguma pessoa ainda viva. Diz-se que se alguém encontrar seu próprio doppelgänger, morrerá em breve. O termo também é usado como sinônimo de "sósia", geralmente com alguma conotação maligna.

². Trecho de O Lobo da Estepe, de Herman Hesse.
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Nota: Eu demorei pra postar este texto aqui no Wonder porque... porque... na verdade nem eu sei bem o motivo. Eu só queria ele mais completo, mais exato, mais lapidado. Mas é exatamente isso que é, não consegui mudar muita coisa, não sei se foi incapacidade ou se não há o que mexer. [sempre há].
Quem quiser ler o original, sinta-se à vontade no Susi.

17 de julho de 2008

Passenger

Descobri a origem de minha morte. Pisava com força no pedal, uma força alimentada pela raiva. O barulho do motor era meu último grito. Meu último grito de dor. Doze meses se passaram desde então.

Eu gostaria de não ser assim, mas não consigo, não é justo comigo. Se eu pudesse, eu destruia tudo, mas não posso, não seria justo com os outros (?). Então destruo aquilo que me cabe por direito.

Você continua sendo minha passageira, temerosa, acolhedora, egocêntrica... Fazendo tudo sumir, fazendo meu medo ir embora. A adrenalina na qual você me coloca é orgásmica, e sou seu discípulo. Mato aquilo que me cabe por direito. E você, você me mata sem ver a dor causada.

Um freio de mão puxado. Aonde estão todos? Eu não fazia idéia do que estava acontecendo nem da onde eu estava. O retrovisor só mostra o passado, mas agora ele estava amassado na frente do volante refletindo meu pânico. Minha passageira havia me abandonado, lembro que chovia muito, eu não estava correndo, eu não havia feito nada de errado... Cadê você?

O carro estava destruído, mas nada a não ser um soco na cabeça me atingira. Ela havia me protegido. Me protegeu dela mesma, de meu amor. Mas agora estou sozinho.

Gritando frases sem sentido, desmaiando,chorando confusões... uma luz vermelha que acende e apaga. Ela me abandonara, e nunca mais morri.


Doze meses se passaram desde então.

14 de julho de 2008

Sleep in Sanity / Só.


O que me deixa triste eu não consigo explicar agora. Fantasmas rondam minha cama numa falsa companhia. Eu não sei o que está errado com meu coração, não sei o que eu fiz... A hora de cair ainda não chegou, mas já rastejo febril entre espíritos. E morro só.

Estou num túnel que bifurca em vários outros túneis destinados à escuridão. O caminho a percorrer não importa, o destino que desenhar me será cruel. Eu não sei o que está errado com meu coração. Quando descobrir, ele já terá partido. Eu já terei partido-ido. O escuro é sólido e tem um gosto amargo, invade minha boca, entra pelos meus ouvidos e dentro dos meus olhos - me fazendo ver nada mais do que costumava enxergar.

Vozes que não consigo identificar de onde vêm e o que dizem ecoam em toda ausência. Ouço algumas teclas de piano, fazendo uma canção lenta e dolorida, reconhecível. Mas eu sei que é só coisa da minha cabeça. Toda esperança evapora de meus poros, me deixando deitado em minha cama com meus espíritos fazendo ronda. Continuo rastejando e morrendo só.

11 de julho de 2008

Come On, Come On Now Touch Me, Babe.

Toda vez que vê um gordão, Allan surta. Ele sente um desejo impulsivo de bater em sua bunda gigantesca ou apertar suas tetas, como se o gordão fosse a Pamela Anderson.


- Vai lá Allan, pega a Pamela de jeito, pega!



Nada o impede, então o apoio. Os gordos e as gordas fingem que não, mas adoooooram!

7 de julho de 2008

Muzak e o Vácuo do Espaço Infinito Acoplado

Sigo em passos curtos na estrada umidecida pela chuva e dourada pelas luzes amarelas da madrugada. Me entorpeço, esqueço meu coração, frágil badulaque¹. Ando com ele nas mãos e rio ironicamente: "Tanta gente querendo entrar e ele aqui, dando sopa na minha mão". Percebo que só está fora porque eu estou sozinho; que não tem fechadura em meu peito2, podem ter um molho de chaves, morrerão do lado de fora. Assim como tantos outros, que os ossos jazidam na porta. Eu m3smo desconfio que me tranquei pra fora e não consigo mais entrar.

4ndo sem direção por caminhos que não fazem sentido ou questão. Minha alma dorme num velho porão empoeirado. Um anjo acorda à minha espera para me castigar. Minha fé secou e eu não pedi perdão. O que o deixou mais nervoso foi por não me impressionar com suas asas e áurea, por não me sentir melhor com sua presença.

Sigo ouvindo a musiquinha de elevador. Tenho nas mãos um coração maior que tudo. Nem tudo é meu, e quem sou eu, além de tudo? Nem tudo é bom... Meu coração é um porão empoeirado, o vácuo do espaço infinito acoplado.

Sentado, o anjo espera seis dias por minha redenção. O 5om da morte se espalha pelos meus ouvidos. Nunca mais deixei aquele porão. E o muzak segue soando imperceptível para os menos sensíveis. 6.




[No sétimo dia, descansamos.]

















*Muzak é uma expressão utilizada para se referir a música de elevador ou música de espera ambiental. Muitas vezes usa-se o termo no sentido pejorativo ao referir-se a música sem conteúdo ou que causa aborrecimento.

**Este texto foi feito sob inspiração das músicas Muzak - Zeca Baleiro e Count to Six and Die - Marilyn Manson.

4 de julho de 2008

Sinestesia

Um gusano tenta me mastigar, mas o mastigo primeiro, então os astecas aparecem para mais uma viagem. Flutuo dentro de uma garrafa de mezcal. Me deparo sozinho olhando pra cima. Me vejo gigante olhando pra baixo me vendo lá dentro, pequenininho, perdidinho...

Eu vi os olhos furiosos de Pandora dentro dos meus, dentro de meu aquário. Peixes saiam de minhas lágrimas e voavam fazendo certo esforço. Por que estava chorando tanto? Tinha tanto medo mas estava tão confortável no calor da boca daquele vulcão prestes a explodir. Sou as cinzas do arco-íris, renasço das cores do fogo da Fênix. Um mergulho para provar que vai ficar tudo bem.

E vai ficar tudo bem. Vivendo assim sentindo tudo tarde demais, nadando com meus peixes pela ordem das ondas surdas da lava e das lágrimas. Misturando tudo até eu me tornar rocha por inteiro, não só mais o coração. Vai ficar tudo bem...


...Eu continuo me enganando.

1 de julho de 2008

!Vendido!


o que cega é a luz
é prédio que tampa
cor que seduz
caneta que estampa
o colorido
do preto e do branco
seria tão mais bonito
se fôssemos santos
e usássemos mantos
mas tudo é defeito
e não tem jeito
não é mais fibra
o que bate no peito
é silicone
não há mais conversa
é só headphone
se prenda em você
não olhe pro lado
se não tem o que dizer
fique calado

é tanta coisa
minha cabeça não guenta
essa paixão violenta
levanta e se senta
não terminei de falar
fica quietinho
senão vou gritar
mais do que estou
já estou rouco
mais do que sou

louco!
estou ficando louco!

é muita briga
e violência
não tem união
é só intriga
estupro à inocência
as igrejas só crescem
vendendo falsas crenças
e esperança
e o pobre continua
fazendo criança
fazendo criança
e mais criança
que cresce bandida
e não tem o que comer
marginalizada pela vida
só vai se foder!

o problema não é sexo
sexo é bom
e maravilhoso
o problema é a superpopulação
rapaz, segura esse gozo!

é tanta regra
não há quem nega
regra pra tudo
um absurdo
não pode fumar
não pode transar
não pode falar
não pode poder
e também não poder
obrigado a votar
democracia?? ha-ha
não posso ser eu
tenho que ser você
o que eu compro é meu
eu não entendo o porquê
o governo ainda me cobra
eu tenho que pagar pra ter

regra dos nove
regra dos três
regra do mundo
e de portugûes
é muito trânsito
e carro batido
qual o problema de vocês?
somos todos fudidos
tudo é dinheiro
paga-se até
para ir ao banheiro
trabalho doze
deveria ser seis
precisando é comigo
eu vendo até o freguês
eu sou um vendido

dou-lhe uma
fique antes que eu suma
dou-lhe duas
Vamos, fique comigo
dou-lhe três
vendido!

27 de junho de 2008

Claudia

Todo dia quando vou mijar, logo quando acordo, elas estão lá, olhando para mim. Fico imaginando o que ficam pensando... Todo dia ficam lá me esperando no banheiro, não importa a hora. Tentam puxar assunto, mas tudo parece tão vago, o sorriso parece tão infeliz. Será que não percebem que estão invadindo a minha privacidade? Devem querer perdigotos de urina na bela maquiagem.


Loira, morena, japonesa, olhos claros, cabelo crespo, não importa... Elas me olham sempre com os mesmos olhos apáticos e imagem posada me prometendo libido e segredos de sexo. De mês em mês é uma, dizendo sempre a mesma coisa, querendo me vender sempre as mesmas futilidades. Externamente encantadoras, carregam o mesmo nome... Um dia mijo nelas todas.

...or Death & All His Friends

Os dias doem ao não te perceber mais. Ontem estava tudo bem, rimos até. Dias que se tornam meses, que somam anos, que esmaecem e embaralham as lembranças. Juntamos sua vida espalhada pela casa, enfeitamos algumas paredes com sua essência, deixando todas as alegrias em memórias e sorrisos que amarelam junto às fotos.

Quando a Morte nos surpreende pela única vez (ou TODAS as vezes), voltamos a ser crianças inocentes sem nada entender. O que perdemos, esperamos ansiosamente pela volta... Como se fosse voltar. Seu rosto ou seu cheiro não parecem tão claros até que vez ou outra me assusto como sinto você aqui, do meu lado. Tem coisa que é maior que a gente e o único conformismo é acreditar que aconteceu porque teve que acontecer. Não é castigo, mas dói demais.

Acreditar que te fiz feliz e ter a certeza de que fui feliz ao seu lado. Aquela despedida que não aconteceu na única promessa que você não cumpriu: a de que você voltaria pra casa para me ver crescer. Você não voltou e eu não sei se cresci. A culpa não foi sua, eu sei, mas algo maior que eu continua te esperando...

26 de junho de 2008

Allan Psychedelic Breakfest [parte 2]

Eu não tomava café até ele aparecer. Talvez fosse a única coisa que nos unia, manter um relacionamento com Allan era uma linha muito fina e sensível. Sempre falo que nossa amizade é um fio de cabelo, ele sempre fica puto com essa afirmação e sai gritando uma onda de pressão "cábelO, caBÊlo, CABELÔ" até ensurdecer meus martelos, bigornas, estibos, tímpanos.

Um dia entrei e tinham sete Claudias¹ -- mulheres gatas, de todos os tipos, nuas. Pensei "caramba, aqui tá tão cheio de vida. Só aqui tem umas - faço as contas olhando pra cima como quem tenta enxergar o próprio cérebro - quarenta e nove!" Alguém viu o Allan? Ele estava dentro de uma delas rindo que se acabava.

Teve uma vez que nos envolvemos com _____. Allan sempre me dizia "Vai, descarrega todo o pente, vai, mata toda essa gente!" Fiz, mas não porque ele mandava, mas porque era o certo a fazer. O ódio tá na mente, ele só instigava. Ninguém morre inocente - esse era nosso lema. "Eu fui atingido! Rápido, Allan, chama alguém, fazalgumacoisa!!!"

Era só vídeo-game, essas coisas mexem mesmo com a gente.
Voltamos ao café-da-manhã, tinha geléia de morango por toda parte...



¹. Vocês não sabem quem é a Claudia né?! Amanhã.

24 de junho de 2008

O Que Envelhece

[Hoje acordei preto-e-branco e revivi lembranças não-vividas. Até Woodstock colorir o mundo, muita coisa ainda estava por vir.]

O que envelhece é o ônibus lotado, a correria do povo apressado e a poluição. O ar que gasta tudo, que nos murcha e enruga. Plásticas e cosméticos para enganar o tempo. Não há fuga, pois não se engana o coração. Deveríamos ter uma plástica interna, aí sim seria a favor.

Memória que liquifica os olhos, de um passado ilusório, de que tudo era melhor.

Se pensarmos bem, o passado não há e o futuro não vem. O presente... Presentão hein!

23 de junho de 2008

Cada Pesar

Cada passo meu empurra a Terra
Um pouco mais distante
Para evitar a guerra
Olhe meu semblante
Cada passo erra
As últimas palavras
De uma vida que se encerra

Qualquer veneno que me coloque para dormir
Eu não sinto a diferença
Os lábios servem para mentir
Eu não creio em minha crença
Um passo a mais para morrer daqui
O inferno será minha recompensa

Cada passo meu para qualquer lugar
Cada passo de cansaço para que eu possa descansar
Vou embora cada dia um pouco
Morri antes mesmo do meu corpo
Cada lágrima que a solidão pesar



13 de junho de 2008

1º Capítulo

Começou com uma manchinha. Acordei e vi aquela coisinha ali, bem no meio do meu peito. - Deve ser pernilongo ou alergia -mas não coçava. Um dia olhei pra baixo e vi sangue na minha camiseta branca. - Bonita estampa. - Estampa(?), não, peraí... Quê?

Coçava sem parar. Aquele botão avermelhado coçava e eu coçava sem parar. Um dia acordei com minhas mãos todas sujas de sangue. A ferida estava maior, e eu me diminuía cada vez mais. Não era aids, dengue, sarampo, psoríase, nevos... Não era "nada", e quando não é "nada" é mais preocupante.

Com as unhas e roupas sempre manchadas, comecei a divagar em templos e hospitais, religiões e ciências, tribos e crenças, verdades e mentiras. Nada nem ninguém soube dizer o que é.


O corpo é a ponte entre a Natureza e o Espírito. A Mãe e o Pai. Eu não queria mais ser órfão. Os índios acreditam que nenhuma morte é natural, e sim, um assassinato, e que eu iria morrer porque eu estava causando aquilo - meu próprio assassinato.

11 de junho de 2008

Haller

Eu nunca tive um diário nem nunca tive a pretensão de ter. Confesso que fazia dos meus cadernos escolares minhas páginas secretas, como extensão de meus pensamentos - até hoje o faço. Lá estavam meus segredos em relação ao mundo e que não dizia por não querer ser rejeitado. Eu era muito novo naquela época, mas acabei crescendo e rejeitando a todos primeiro.


Com um cheiro amarelo velho de sebo, lá estava, me aguardando. Sem uma capa que chamasse atenção e com as páginas frágeis, lá estava. Duzentas e poucas páginas sobre mim. Meu diário à venda. Você já encontrou o seu verdadeiro eu, aquele que você não mostra à ninguém, numa prateleira à venda? Assombroso meus caros leitores, assombroso e egocentricamente belo e confortante. Não estou sozinho.

2º Capítulo

Continuação do 3º Capítulo

O pontinho vermelho agora era um mini-vulcão (ou um vulquinho¹). Quanto mais dava atenção àquilo, mais crescia e me desafiava. Meu corpo avisava que estava cansado de tanto procurar ajuda, e a voz na minha cabeça me dizia "Você perdeu, amiguinho. Já era, finitto". Hm, deveria ter ouvido a vozinha metida à italiana.

Aquilo doía, quanto mais eu coçava, mais eu cavava. Pus e sangue fazia da cova em meu peito uma sepultura aberta ao sol. Fedia, claro. Não dava mais para esconder o "machucado". Nós causamos nossas próprias doenças. A minha foi tão bem feita que remédio nenhum ajudava, nem reza, nem macumba, nem nada.

Os ossos doíam a cada respirar. E pude sentir os doze pares de costelas inflamados, o esterno agora estava exposto. Chorava de dor, respirar nunca doeu tanto. Às vezes desmaiava e desejava entrar em coma, sonhar outras dores e quando acordasse nada daquilo estaria acontecendo. Sempre acordava, talvez não desejasse com tanta força assim, nunca tive muita perspectiva mesmo...





¹. Vulquinho porque não concordo na contradição de algo ser –ão ao mesmo tempo que é –inho – vulcãozinho(?), vai entender.

9 de junho de 2008

Minutos Eternos na Estrada Dourada

- Alice?
Liceeeeeee...?


Não obtive respostas. Ela nunca havia deixado de me responder antes. Por mais longe que estivéssemos. Nunca ficamos tanto tempo sem nos encontrar, sem a gente. O Wonder é vivo e sente sua ausência. Caminhei por entre árvores, e no meio de frutos e flores, o Gato.


- Olá meu amigo, quanto tempo não?
- Talvez para você, para mim, não.
- Diga-me, tem visto a Alice por aí?
- Te vejo muito perdido ultimamente...
- Sim, mas e a Alice? Sabe, aqui é tudo muito bonito e maravilhoso, msa também há seus riscos. Riscos sem volta.
- Diz isso pra mim? Não sou eu quem está perdido.
- Ela está perdida? Diga-me aonde ela está por favor!
- Se eu soubesse ela já não estaria mais perdida, concorda? E quem disse que foi ELA que se perdeu?


Saí desapontado, jamais conseguiria arrancar algo do Gato. Gatos só fazem o que bem entendem, só são achados quando querem e não fazem nada se não for em troca de alguma coisa. Na despedida, ele me disse pra sair da floresta.


Segui seu conselho, afinal, gatos são astutos. E eu ainda não sei quem eu sou, e se fosse o Coelho? Estaria perdido em suas entranhas. No caminho de tijolos amarelos, saí procurando a Alice embaixo de pedras, atravessei portais, tomei poções, vi a floresta em chamas. O Gato sobrevoava os céus como um Iomys¹ gigante tingindo o céu com uma sombra roxa degradê, fazendo chover uma chuva púrpura tão leve quanto flocos de neve. Tudo seria doce se a encontrasse.


Gritei seu nome mais algumas vezes. Ecos me respondiam em sinal de solidão. Nada é mais solitário que conversar com sua própria voz. Ela volta sem novidades, sem respostas. Eu xingava e ela me xingava de volta. Eu gritava "Alice", mas só eu me respondia. Estava chamando nos lugares errados. Mas onde ela está, eu não consigo entrar.


Alice, você pode ouvir? Aonde está você? O que você precisa pra sair? Eu posso ser o Coelho, eu posso ser o Senhor do Tempo, esqueceu?! Aproxime-se que eu congelo as horas pra te ter em meus braços. Nos minutos eternos de nossa solidão.








¹. Espécie de esquilo voador natural da Malásia e Indonésia.

3º Capítulo

Peguei meu coração em minhas mãos TUM DUM Minha sentença pulsante e rítmica me fazia dançar conforme sua música TUM DUM Não há muito tempo TUM DUM É isso? Morrerei sem saber? “Nós sempre sabemos” TUM DUM Meu eu mais sincero e involuntário prestes a padecer TUM DUM Nós sempre sabemos TUM DUM Ria sem parar, sabendo sem saber TUM DUM O estranho da Morte é termos medo até ela chegar, mas ela nos abraça de uma forma que a vida nunca o fez. TUM DUM Daí é tão confortável... TUM DUM... Desistir parece valer a pena... TUM DUM ... TUM... DUM... TUM... DUM... TUM.

5 de junho de 2008

Confraria da Sedutora

O conta-gotas é a ampulheta. O estômago é areia. Pinto e punheta, pau e boceta. Nas mãos a arma branca em posição de ataque, entrando, gritando... Enchendo o reto de carne podre. Deixem que se explodam as veias e as véias. As novas só bebem o leite condensado. Deixe que a porra enxurre tudo. Lava a alma e faz bem pra pele.

A ponta da agulha é bússola, escolhe seu caminho e segue com a determinação de um mosquito faminto em busca de sangue. Ela tem vida própria, sabia? E a partir do momento que você a conhece, a sua vida própria se torna dela. Você precisa dela, mas ela não precisa de você. E te injeta todo o prazer, te fazendo esquecer algo que nem lembro mais...

...
...
...
...
...
...
...
...

Eu suei um suor que não é meu. Era seu, que saia de meus poros sem olhar pra trás, acenar ou ao menos dizer adeus. Só pra me lembrar que já morreu. E meu corpo todo saía junto ao gozo, meu corpo todo já não tinha mais motivos. Era seu.

Se aproveita, me rasga, me deita. O pau é conta-gota. Envenena. Envenena porque já me tens. Eu desacredito de tudo. Se aproveita de minha situação indefesa. Me tens no meio de suas teias de esperma. Eu mordi a isca, agora me pica. Pica pica porque sei que também me deseja. Ao mesmo tempo que estupra, ama!

1 de junho de 2008

Alan's Psychedelic Breakfast

Ontem a noite acordei quando alguém apertou minha mão. Era minha outra mão¹. Acordado e sem conseguir dormir, resolvi caminhar um pouco. De telhado em telhado percebi as casa. Eu cresci bastante nos últimos anos, os muros também. Logo, deduzi que sou um muro e passei quase um dia inteiro parado em transe até que me encontrassem e me arrancassem os tijolos. Ainda bem que não estou em Berlim.

Ontem a noite acordei quando alguém apertou minha mão. Era minha outra mão. - O que está fazendo, quer me matar? Que susto! - Analisei o cômodo escuro, meus olhos perceberam tudo. "Alaaaan, o café tá pronto!", que voz é essa? Eu moro sozinho, e não moro aqui. Eu não moro. Desci as escadas, uma moça que parece ter vindo dos anos 50 estava me aguardando, nua e sorrindo com um copo de leite na mão. - Oi, quem é vo... - ela joga o copo pra cima e deixa quebrar em seu busto, fazendo escorrer todo o leite e um pouco de sangue pelo seu corpo. "Vem, bebe, eu sei que você gosta assim".

Eu acordei odiando hoje com vontade de odiar amanhã. E não fazer nada a respeito, amanhã eu faço. Mas o amanhã de hoje não é o hoje de ontem? Caminhei até um lago próximo à casa. A moça pin-up veio correndo e pulou aflita no lago gritando e questionando por quê eu não fiz nada. Lembrei que não sabia nadar, nem ela, e talvez tenha pulado propositalmente por isso. Era seu reflexo, então se afogou na própria imagem. Voltei para a cozinha e bebi o leite misturado com esperma e sangue do chão. Assim começou meu café da manhã.

("Oh..uh..me flakes… scrambled eggs, bacon, sausages, toast, coffee marmelade..I like marmelade… pourridge..any cereal, I like all cereals…oh god…")²






¹. Frase original de William S. Burroughs no livro Almoço Nu. Genial.
². Auto-explicativo. Não entendeu, joga no Google.

29 de maio de 2008

Morada Boa (Bring the Noise)

Primeiro entre no clima: Benny Benassi vs Public Enemy - Bring the Noise

O silêncio é a vontade de gritar.

Acordou num lugar calmo, escuro, cercado de sujeira. Não se lembrava do que havia acontecido para estar ali, tampouco sabia onde estava. Não disse um "a". Calado e tenso como um animal cercado, tentou se levantar.

Tentava sair mas algo o impedia. Era como se uma vontade inconsciente de ficar o prendesse, como se aquela felação fosse a redenção que esperou a vida inteira. "Aqui se faz, aqui se paga. Enfim, terei minha liberdade", pensava ao mesmo tempo que seu corpo relutava por instinto e quase sem forças. "Deve ser algum tipo de droga - Eles devem ter me sedado". Quando pensou em gritar, foi em vão, pois algo como Benny Benassi tocava bem alto. Lia-se em seus lábios "Benny, seu traidor! BENNY TRAIDOR DUMA FIGA!"

Cachorros assistiam a tudo como se fosse parte do ritual, lambiam as partes encolhidas do pobre infeliz enquanto este chorava. "Calma, podia ser pior, eles podiam morder", ao que um começa a rosnar. O corpo nu franzino desprovido de cor agora era uma extensão do corpo de outro homem. O Homem habitava a sala espalhando o terror ao mesmo tempo que trazia uma proteção paterna. "Pára pai, eu serei um bom menino, eu vou me comportar. PAI, PAAI!" ... Lembranças paternas indesejáveis.

Quanto mais chorava, mais sentiam prazer. A música, os gritos, os latidos, as risadas. Em pé, arrombava por trás o pobre virgem sem medo nem vergonha enquanto punhetava seu pau em riste. "Você gosta né?! Eu sei".

Estradas vermelhas de mão única eram feitas com as unhas cravadas na barriga e no peito. "Não se faça de tão vítima, seu taradinho". O que mais fazia chorar era realmente sentir prazer no estímulo da próstata enquanto estava empalado no Homem; e não segurar o gozo. Não há como segurar o gozo. O ápice do dia, explodiu a porra feito mangueira entupida. O Homem ria enquanto o garoto suava e se contorcia. "Agora é a minha vez."

Acordou com as pernas escorridas de merda, sangue e porra. Tinha merda, sangue e porra em seu rosto, em seu cabelo, no colchão... Aquele cheiro que ele nunca mais vai esquecer; que vai permanecer após o banho mais demorado com as ervas mais perfumadas e finas. Os cães dormiam ao seu lado, no meio àquela - pausa para a cara de nojo - sujeira toda. Não disse um "a". Calado e tenso como um animal cercado, tentou se levantar.

27 de maio de 2008

Exit Music (For a Film)

Tarde Demais


Enquanto o céu se misturava com o chão
Lembrei do meu último amor
Os estragos desfaziam meu coração
A noite se liquefazia sem cor
Você estava ao meu lado
Mas não foi minha culpa
(Me perdoe)

A paz eterna que eu não quero
Eu sei que você vai voltar
Então seremos um só
Assim espero

Eu acordei de meu sono
Mas já era tarde demais

19 de maio de 2008

Ex-pressão

"A expressão de que não há nada a expressar,
Nada com que expressar,
Nada a partir do que expressar,
Nenhuma possibilidade de expressar,
Nenhum desejo de expressar,
Aliado à obrigação de expressar"
(Samuel Beckett)

***

O que era antes desejo não se tornará obrigação.
Assim estou e assim ficarei.

17 de maio de 2008

o-9 [nota:]


Pílulas coloridas caem do céu. "Ihhh, tá chovendo, não esquece o guarda-chuva". Nunca simpatizei com guarda-chuvas, saio de boca aberta encarando as nuvens, elas são o mapa dos tolos. Ruas vazias e vento gelado. Algo tira minha atenção e quase beijo um poste, mas agora nem lembro mais o que era. Hoje não teve gato cruzando meu caminho, tampouco algo para pincelar. O céu tá cinza e cheio de pontos coloridos desabando do paraíso. Me sinto aconchegante em tudo isso. Mesmo assim, me falta ar.


Meu peito acordou dolorido, culpa da minha cabeça. Não dormi direito pensando em tudo, tentando não pensar em nada, a não ser na voz rouca cantando All is Loneliness pra mim. Tudo se desfez na chuva que me trancava em casa, que evitei tomar por tanto tempo, mas que me fazia livre. O elevador quebrado, a máquina de café igualmente a me ignorar, quebrada. Mas hoje foi diferente. Não teve gatos e achei minha corrente da sorte. Hoje foi diferente porque saí juntando os cacos e colando um a um numa carta.

15 de maio de 2008

Sünzp0ts

>>Sol Raios de cegam meus olhos. Atravesso mltd~s e multidões despercebem meus passos Eu chamo atenção com qlqr comportamento inusitado/, pra causar conflito, atrito, confronto,,, pra fazer diferença e ter algo a contar. pRA você chegar em sua casa e não ter que dzr a mesma merdaMESMAMERDA do seu dia todo dia. _.Tododiaodia inteiroTodo dia. Aquela merda que ninguém tá afim de ouvir.


Eu n~ deveria ouvir e não deveria ir embora. mas eu vou e nunca volto ponto Espera e èspéra sentada. Eu sempre vou e nunca volto ponto Eu sempre fico quando deveria ter ido. O SOL descola nossa pele e queima tudo por dentro. Borbulha o sangue que tempera a carne. Vamos queimar até derreter e voltar a ser solo. Vamos foder no incêndio e espalhar nossas cinzas. Eu - eu quero matar o que sobrou. E eu vou. )e nunca volto.) w


Nada pode impedir porque não tenho nada a temer. Agora eu encaro o Sol, olhando em seus olhos (U-AU) ,Bebe minha água e me deixa morrer. Agora vejo tudo que eu fiz. Eu falhei te fal(h)ei _ tô falando. Eu poderia ter sido alguém, mas não posso impedir o que já começou - já não tenho medo, isso não é segredo - quando tudo está pronto e feito, e não há pra onde ccorrerr. Eu realmente acho que poderia ter sido algu´´em. Más agóra eu só encaro o Sól.

11 de maio de 2008

Sem colo de mãe hoje

Nem chorar eu consigo mais. Mentira, eu consigo, mas é tão passageiro, tão superficial. Faz que vai molhar meus olhos, faz que vai cair e borrar meu caderno... mas muda de idéia e tudo se seca. Seca. O que se passa? Parece que não sinto nada. Vai, é tão difícil ser feliz, por que eu me questiono? Por que não me permito? Vai, pode ser feliz. Sorrir não dói. Digo que nada sinto, mas é mentira. Tudo é mentira, porque o que eu sinto não faz sentido. Nada se conecta com nada, não há razão de ser as idéias do momento. Estou me sentindo no passado... é, no passado. Vou fazer o que fazia: vou parar de escrever pra ficar quietinha no meu canto. Mas me perturbe com um colo, tá?
***
Meus colos estão mudando. Colo de mãe não funciona pra tudo mais. E pra agora, nenhum colo me serve.

9 de maio de 2008

O-9 [reeditado]

Hoje não é 13, mas como se fosse. Dois gatos brancos idênticos cruzaram meu caminho e em seguida posaram para um quadro. Déjà vu. Decidi pintá-los. Minha caneca preferida se partiu ao meio esparramando todo o café pela cozinha a fora. Decidi ignorar o fato. Meu cigarro matinal queimou todos os meus dedos. Meu pincel pinta o pulmão de preto. Quando vi, tinha pintado o dia inteiro.

Tropeços pelo caminho não contam, acontecem todo dia, toda hora - Ops! O elevador estava quebrado - só seis andares. Só! O 13º é abandonado e tem um terraço secreto, fui lá guardar meus segredos. Subi no parapeito e o vento me fazia dançar. "Hoje não, meu filho. Cair é fácil, difícil é ficar aqui em cima". Vou à máquina de café - Um espresso, por favor [pedi assim com s mesmo - blasé]. Ela não me respondeu - Alooôu, esssspresso! - me ignorou, estava quebrada.

Minha companhia matinal de garras vermelhas, meu peito solitário tão cheio... cheio. (De quê?). Meu coração estilhaçado. Nosso, espalhado e misturado no chão da passagem, grudando na sola dos transeuntes. Percebi que estava sem a minha corrente da sorte. Todo mundo sabe da minha corrente da sorte. - Oi, você viu minha corrente? Oi, minha corrente? Não?...Ela é da sorte.

Perguntei e ninguém respondeu. A história não pode se repetir. Os dois gatos cruzam meu caminho novamente. Olhava à minha volta, tudo estava quebrado.









[Futuro, passado... Fui eu.]

7 de maio de 2008

Yellow Light, Yellow Heat*

Com aqueles óculos escondia o olhar. Foi naquela tarde ensolarada que pôde enxergar tudo diferente. Com as ruas vazias, cheias de lixo e cheirando comida, sem fé e sem fome, saiu.

Lentes amareladas o faziam enxergar tudo diferente, distorcidamente belo. O faziam mais visível, embora se sentisse transparente. Embora se sentisse corajoso, sem ego. Carros coloridos e vozes e guardanapos engordurados de pastel faziam a paisagem. O Sol estava muito mais próximo naquele dia, encarava-o sem desviar o olhar, e sentia que podia tocá-lo. O Sol se viu pela primeira vez nos olhos daquele.

Corria. Sem rumo algum, parou e a ficha então caiu. Sentiu que podia encostar na música, podia vê-la e enxergar suas cores, podia ver o vento e suas vontades. No meio de tantas cores que seus óculos permitiam enxergar, se viu inóspito, projetado fora de seu corpo, estático e incolor. Folhas de jornal dançavam a sua frente, seus cabelos esvoaçavam e o vento tomava suas mãos. Ouviu as vozes uivantes dizerem.

Falava quando não havia assunto, quando todos prestavam atenção à outra coisa. Falava sozinho e tudo bem, não esperava resposta alguma. Porque tinha seus óculos, e com eles não havia sombra alguma, e enxergava o tudo à sua maneira. Com as lentes amareladas, via o mundo como o mundo jamais o enxergaria. Sorria e chorava diferentes cores feitas de lágrimas psicodélicas.


[Com aqueles óculos escondia o olhar, mas não deixava de ver. Foi naquela tarde ensolarada que pôde enxergar tudo diferente. Com as ruas vazias, cheias de lixo e cheirando comida, sem fé e sem fome, se entregou à Morte.]


*Alusão referente à White Light, White Heat, do Velvet Underground.

3 de maio de 2008

Desiguais


prenda a respiração e me acorde
finja que não gosta de mim
você disse "pra sempre"
que sempre seria assim
você disse
o pra sempre teve fim

já faz tanto tempo
que diferença faz
seus olhos sempre atentos,
desiguais
sua boca me atacando sedenta
tudo se move em câmera lenta
e se eu disser
que não te pertenço mais

unhas café em pele sulfite
marcam minha carne triste
do jeito que eu sempre quis
unhas café em pele sulfite
marcam minha carne triste
me fazendo um pouco mais feliz

você sempre precisou de atenção,
só pra dizer que não

eu não te quero mais
não te quero mais
te quero mais,
te quero mais
somos tão iguais

eu te quero mais
mas somos desiguais



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