Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

30 de março de 2008

the Wolf

Antes de tudo, baixe The Wolf.
Depois de dado o play, leia:

Você veio uivando seu uivo rouco, louco, maciço. Se abrindo, me mostrando suas dores reclusas, seu espírito nobre, dividindo sua solidão.

Espero sinceramente que a sociedade não se sinta solitária quando eu partir. Tenho mais do que preciso, não quero mais nada disso. Nem pegadas deixarei, nem sombras, nem matéria alguma. Só lembranças que se apagam e mudam de acordo com a memória. Quando se tem mais do que se deve ter, então precisa de mais espaço. Vou procurar o ponto exato do encontro da terra com o céu. Se é asfalto ou terra ou água ou vento que me cerca, tanto faz, não deixarei nada pra trás... Vou conquistar o universo. Vou até você.

Espero realmente que você não esteja sozinha sem mim, minha loba do rio. Você veio, conquistou, se abriu. Eu nem pedi. Mas agradeço. E na mesma intensidade, na mesma velocidade, me deu as costas e partiu. Sem me dar chances, sem se despedir. Não me viu chorar, tampouco me viu rir.



[Me espere] Então Adeus.






“Pense como seria maravilhoso não importar mais. Pense como poderia ser maravilhoso não ter de se preocupar mais, nem lutar, ou fracassar.”

28 de março de 2008

Too Late I'm Dead

Eu vegeto aqui. Meu corpo - pêlo e cicatriz - não me diz mais nada. Os ossos estão cada vez mais pesados. Tanto faz se eu choro ou se dou risada. Meu reflexo no espelho me ignora. Toda vez que tento conversar, ele vai embora. E eu tento ir ao seu encontro, e com lâminas eu me deparo. Pronto, mais sangue. Mais e não paro. Mais morte eu desejo, mais isso eu almejo. Da vida, o soco, da morte, o beijo.

A repulsa. Outros na minha cabeça gritam o que fazer. Eu não lhe dou mais ouvidos, eles pararam de dizer. Minha imagem deu-me as costas e partiu. Como o espelho, meu coração. Ruínas e manchas fazem de mim um homem frio. É esperança, É PRA EU SENTIR QUE ESTOU VIVO, OUVIU?! E a culpa disso tudo é tua. É minha, eu sei meu rei, a culpa é toda minha.

Me tornei tão inóspito que já não percebem minha presença. Ninguém vê se eu chego ou me vou. Eu construí meus castigos e minha própria sentença. Minha voz, de tanto desuso atrofiou. Nós criamos os deuses e nossas doenças. Meu rosto envergonhado sempre diz: O que você (não) se tornou?

Ainda mais, que se fosse eu faria melhor. E repete insensatemente como sou imperceptível. Minha dor não é som, meu sangue não é cor. Como viver pode ser tão horrível! e alguém sempre grita sem parar: Quando morrer, você pode avisar?





































Tarde demais.

25 de março de 2008

Vicarious Atonement

Não me ignore, não finja que não estou vivo. Meus ossos não sentem dor a não ser que ela esteja por perto. Não me ignore, meus ossos doem quando está aqui. Quase não sinto mais nada. Quando foi que você perdeu seu rosto? Encontrado num cofre em meio à línguas mortas. Indecifráveis. Quando foi que parei de chorar? Eu não vivo a minha vida. O inferno é a única verdade.

Eu posso ver seu reflexo e não quero mais. Eu o vejo em seu primeiro parto cada vez que o encaro. Eu me arrependo de não ter te matado quando tive a chance. Eu me arrependo de você não ter se matado quando teve a chance. Eu ter chegado até aqui quando tive a chance...

Talvez eu te assombre para sempre. Talvez você realmente devesse cumprir suas promessas. Nós cavamos nossas covas e culpamos quem nos enterra. Melhor ter um grande palácio concreto de mentiras, do que um lar feito de areia para perder. Eu sei, pena eu não ter tido escolhas. Seus olhos vermelhos e limpos combinavam com suas novas atitudes. Seus remédios combinavam com seu novo lar. Desce melhor com whisky. Me afogo nas torrencias dum rio e Deus pragueja meu nome.

Não deixe essas mãos cortarem suas veias. Tarde demais, você chegou até mim. Mas um dia eu chegaria até você, não estava longe. Você só não soube esperar, igual eu. Não deveria ser ao contrário? Sirva os vermes, eles estão famintos.

Agora caímos todos... Quem vai jogar a terra?

[Vida Besta]



Todos Nós.

22 de março de 2008

My lovely (Where do you go to)

O telefone está mais pesado do que de costume. Sua textura parece diferente. Mas a voz que busco é a mesma de sempre, mesmo sem tê-la ouvido por tempos. Sua voz ainda soa inseguramente confusa e tímida em meus ouvidos.

- Bom dia.

Fumo meu cigarro com passos firmes na rua. Evito os buracos com meu jogo de pés, minha dança sensual que tão bem desenvolvi com ele. Sei precisamente para onde estou indo. Exatamente onde ele está. Paris nunca pareceu tão ansiosa. Tão ansiosa e excitante.

Vou direto à porta do prédio, exalo um sorriso sedutor ao jovem e inesperiente porteiro. Me lembra o olhar dele quando primeiro nos vimos. Cumprimento discretamente as pessoas no hall, todos sentem minha presença. Cabeças viram, domino os pensamentos, por segundos. Ser discreta nunca foi uma habilidade minha. Uma vontade minha.

Pressiono a campainha com o toque suave dos meus dedos. Com desejo. Só a porta nos separa.
- Feliz Natal - eu digo sorrindo o sorriso que ele adora. O mesmo de sempre.
- Você fez luzes no cabelo - ele responde meus detalhes.
- Estou aqui. Gostou do presente? Não vai me convidar para entrar? - como se eu precisasse de algum convite para entrar. Ele sabe que quando quero entrar, entro para não sair nunca mais.

Um abraço. Nós ainda encaixamos. O encaixe mais gostoso que já experimentei. De tantos, há algo no dele que me serve muito bem. Nossos corpos se tocam, se sentem. Por de baixo das roupas eu o tenho, seu cheiro no meu cheiro. Nunca quis que fosse assim, mas ele era como um abrigo. Segundos de insegurança que sempre tenho com ele. Aqueles segundos pareciam eternos. E se pudesse, quereria que sim.

Cigarros. Acho que ele nunca mais tinha fumado desde que fui embora. Fraco até para pegar um novo vício. Mas eu sabia que eu era seu vício.

- Que flores lindas!
- É. É mostarda. Você sempre duvidou delas - e você sempre duvidou de mim.
- São lindas.

Finalmente nos beijamos. Minha boca chamava a dele desde o "Feliz Natal" que lhe disse. Meus lábios estavam tensos, eu estava nervosa, me fingia de segura. Minhas mãos suavam pelo seu corpo enquanto ele me despia, me mordia. Ele veria minhas novas marcas, mas isso não importa agora. Eu desejava sua fragilidade.

- Você não deveria ter me encontrado - ele resistia sem esforço.
- Você não deveria ter vindo para um lugar tão óbvio.
- Talvez no fundo eu quisesse...
- Pensei que fosse ficar no Champs-Élysées. Combina com você.
- Pensei em ficar lá. Mas combina com você - para ele, tudo combinava comigo.
- Sabia que iria te encontrar por aqui.
- Viva la résistance!

Fizemos silêncio, fizemos um beijo. Eu deveria ir, antes de fazer o que não devia.
- Eu vou embora.
- Pra onde?
- Pra longe.
- Eu acho que vou também. Alemanha ou Amsterdã, ainda não sei... fiquei tempo demais aqui.
- A Alemanha engorda. E vai te partir o coração.
- Mais do que você, eu acho que não.

Era verdade. E eu medrosamente me orgulhava disso. Me levanto para ele não ver meu olhar de pesar. Ele pega três flores de mostarda e coloca em meus cabelos. Me olha me querendo, me desprezando, me deixando. Eu não lhe dava escolhas, não tínhamos escolhas, odeio escolhas.
Silêncio.

- Quer ver a visão que eu tenho de Paris?

Eu concordo com a cabeça. Ele pega em minha mão e caminha em direção à sacada. Então, no meio do caminho, coloca-me em frente a um espelho e me abraça por trás. Mal sabia ele que esta era a mesma visão que eu tinha de Paris. De mim. Dançamos a noite inteira. A última de várias outras últimas.

[Páscoa ¬¬]

Nhaaa.



E pra não perder o costume...

Like You'll Never See Me Again


- Quer dizer que agora além de me ver, você me enxerga. que evolução, devo ter medo? - Ela o respondeu cinicamente sem meias palavras. Aquele era o começo, e não teve medo, não havia motivo. Hesitaram por um tempo, um abraço sempre pedia outro abraço mais. Um beijo, sempre um outro beijo.


Ela sabor menta, ele café. O encontro só se fazia possível às escuras do céu, tudo em segredo. Só a noite sabia do romance, só o dia sabia da espera sofrida. - Às 18h já é boa noite? - ela sempre perguntava sabendo as respostas. Ele sempre tentava superar suas expectativas - Se não for, eu faço ser. Pinto o céu de escuro e deixo vazar estrelas, puxo a Lua e você pra mais perto de mim. Noite.


Hoje é sempre o último dia, então se tocavam como se fosse a última vez. Um amor com prazo de validade. Ele a sentia como se o quisesse pra sempre, mas o pra sempre é só aquele momento. Sempre o último, como sem nunca mais fossem se ver...


- Eu sempre fico com seu cheiro depois. É uma delícia, porque, você vai embora mas continua comigo!

17 de março de 2008

Nota

Seu amor violento me soa mesquinho. Seu sexo intenso me parece sem paixão, mesmo dizendo o contrário. Com violência e sem paixão você está vendo o mundo, pesado, rasgado, errado. Vê retratos e abraços da mesma forma. Carregar as caixas nada vai ajudar, mas confesso que não sei o que vai. Digo, digo e ouço suas poucas reais palavras. Meu abraço não funciona pra nada se não sabemos usá-lo. Estou achando que não sei usá-lo e as condições do mundo têm nos empurrado ao avesso. Como é um abraço no avesso? Me lembro do babuíno no avesso, da loucura de um homem isolando-se de tudo por um pouco de... não importa. Era pouco em comparação com o que poderia ter tido. E o tiro de misericórdia veio como eu escrevi uma vez, com lágrimas.
Ah, mas esses tiros são tão desnecessários.
A gente tinha que ter mais paciência com as poucas horas que já vivemos.
***
Estou curta, quieta, silenciosa. Mas aqui, no presente, mesmo que pouco presente.

In the Privacy of Our Love

Hoje é sempre o último dia. E todo o céu é vermelho, toda água, toda terra.

- Vermelho continua despertando muita violência.
- Vermelho é amor. É a igualdade, todos somos vermelhos, independente da pele que o sol queima.
- Bonito, bem bonito! E tem razão! Mas eu acho que vermelho continua despertando muita violência. E não é a cor do amor, é da paixão, e paixões são violentas.
- É verdade. Tudo recai na violência.

Meu amor, ... Meu amor violento, minha paixão pela violência. Rabisco desejos em seu corpo. Ela retribui, e desenha minha costa inteira com suas unhas compridas e sem esmalte. Me deseja dentro dela com seu colo desnudo, com suas vergonhas a mostra, de tom almagre, e ao mesmo tempo, nobre.

Morde com força até sentir o gosto enferrujado do sangue. Eu misturo toda saliva com seu suor agridoce. Seu perfume creme. Seu rosto denunciava gemidos presos na garganta, aqueles que ela insistia emudecer. Meus cabelos emaranhados em suas garras me faziam vulnerável. Eu era todo seu e você me fazia mais homem com seus beijos e toques. Me fode, garota, já não depende mais de mim.

Enrosco seu brinco em meus dentes. Passeio minha língua pelo teu corpo. Pintas espalhadas em pontos estratégicos faziam meu mapa. – Posso ligar os pontos? - E lá estava. Papilas rosadas calavam as vozes do meu prazer, e faziam gritar as suas. Entre telefonemas e o barulho da TV, era só nós dois. Se contorcia e não se segurava mais. Minha mão de encontro ao teu ventre, rosáceo e quente. O seu suor agridoce, o seu cheiro creme... Ali eu mergulhava e sabia nadar muito bem. Um sutil sorriso seu, um malicioso meu.

Arranco teus medos e tensões. Agora somos um só, introjetados em espelhos que não refletem a própria imagem, mas sim, àquela que desejamos. Meu reflexo é você, meu desejo é teu. E você agora é minha. Dentro tudo é melhor. Mergulho mais fundo e te faço mais mulher.

Minhas mãos e minha boca só fazem sentido no teu corpo. Se te queria hoje, amanhã te quero mais. Boa-noite, mon amour.

16 de março de 2008

hOJE

Um idiota parou ao meu lado. Eu o conhecia e agi desdenhosamente como se pouco importasse sua existência. Com um olhar pensador, olhou pro céu, suspirou, maquinou as palavras todas e soltou - é a vida né... - É a vida né, seu babaca! Por que foi dizer isso justo aquela hora? É a vida o quê? Que vida? De quem? Eu sabia todas as respostas, mas fingi não saber porque não queria minhas verdades degradantes. Queria as de outrém. As suas, as dele, não importa. Ando prefirindo a ignorância.

Como você tá levando as coisas, garoto? - disse ela, a de maiores desavenças, textos gigantes e poucas conversas. Que pergunta!... Como vou levando...? Ora, como dá. Carregando caixas pesadas de cerveja em sacolinhas de supermercado. Estou às avessas e as cervejas estão caindo, você-que-tenta-me-ajudar... Ahhhh não sei. Não sei... Nada mais importa. Nada mais importa. Nunca mais. Nunca importou.


Conhaque e dores de garganta. Insônias e frio. E é claro, meu peito a implodir algumas várias veias por sua causa. Mas não tive seu calor por hoje, nem tomamos chuva. E hoje é o pra sempre, é a sensação que eu tenho... de agora, de toda hora agora, pra sempre. Amanhã estarei morto, não entende?? Me aproveite agora e hoje! Meu sonho de todas as cores.












• YuRi Kiddo • the past sinner, the last winner diz:
nossa, eu to meio bêbado hein... e com uma dor no peito de foder.

12 de março de 2008

See You on the Other Side

- Eu não sou filho de ninguém. - Desab(af)ei ali, enquanto procurava forças em suas mãos, naquele banco de praça que parecia tão conveniente. - Eu sou seu pai - continuei. Ela só me olhava e ria de todo aquele colorido, como se toda cor representasse beleza. Ria de minha aflição aguda e desafinada. Se não sabe, o choro invertido também é desespero.

- Olha, eu sou seu pai, mas posso ser seu irmão. O que acha? - Olhava fixamente em seus olhos, enxergando por trás da pessoa que é. As pessoas estão contidas por detrás do olhar¹. Sem dizer uma letra sequer, me abraçou e me selou o rosto. Agora era minha mãe.

Fechei seus olhos e tudo desaparecera. Não enxergávamos nada, e o nada era tudo ali. Mas tudo era escuro.

.Ela não ria mais, tampouco se mexia apavorada por aquele vazio negro. - Ah, eu sempre acabo aqui... Logo a gente sai. Já estou acostumado, essa cegueira acontece sempre, a gente é que nunca percebe. - ...Sempre acontece. Então passeio minhas mãos pelo ar e retomo as suas. A conforto e faço promessas de te tirar da escuridão. Guio em vão, também nunca soube onde era a saída. Nunca quis sair de verdade.

Não havia passos a guiar, sombras a seguir, não havia você em minhas mãos. Não. Não podia crer em meus olhos. Te seguro mais forte porque sei que está ali, sem rosto e chorando, mesmo que se faça muda, mesmo que se esconda no preto. Eu te ouço mesmo sem querer, eu sinto seu choro. Estamos cegos, mas temos um ao outro. Vou ao teus olhos e seco teu sumo.

Minha tentativa só fez com que você enxarcasse mais e mais os olhos. Os seus e os meus. Chorou em meus braços pois era o que tinha ali, o que te segurava e protegia. Eu era o que era sólido. Derreta minha amiga, em mim, sabe que pode confiar. A abraço mais forte e mostro a saída.




Eu continuo preso aqui. E você continua chorando.






¹. Frase original de Mariela. ;)

10 de março de 2008

Where Do You Go To (My Lovely)

O telefone toca. Acordo. Ele toca diferente. Eu acordei diferente, e posso dizer exatamente quem é do outro lado da linha. Mesmo que tenhamos ficado muito tempo sem nos falar. Sua voz ainda soa claramente limpa e doce em meus ouvidos.

- Alô?!

Neuilly Park Hotel, 23, rue Madeleine Michelis. É para onde ela está indo. Exatamente onde eu estou. Paris nunca pareceu tão bela. Tão bela e injusta.

Termino de escrever uma baboseira ou outra em rascunhos mais perdidos que eu, coloco uma música e vou tomar banho. Não sabia quanto tempo fazia que não tomava um banho. Minha barba também não está apresentável. Já não sabia quanto tempo fazia que eu não saia na janela. O cheiro da França nunca tinha sido tão suave.

A campainhia avisa que só a porta nos separa.
- Feliz Natal - ela esparrama as palavras que dividem atenção com os gestos de suas mãos. E o mesmo sorriso de antes.
- Você fez luzes no cabelo.
- Estou aqui. Gostou do presente? - Meu presente... Meu passado. Gostava do meu presente sem ela. Mas dela eu gosto muito mais.
- Não vai me convidar para entrar? - Ela já estava entrando, e sabia que não precisava de convite algum. Na verdade, ela nunca havia saído.

Um abraço. Nós ainda encaixamos perfeitamente. É como se tocasse sua pele baunilha sob suas roupas, como seu eu fosse seu próprio cheiro. Sentia seu coração inseguro como se sussurrasse segredos com o meu pedindo abrigo em mim. Aqueles segundo pareciam eternos. E se pudesse, diria sim.

Cigarros. Nunca mais havia fumado desde que ela foi embora. E lá estávamos.

- Que flores lindas!
- É. É mostarda. Você sempre duvidou delas.
- São lindas.
Você é linda.

Nos beijamos exilando a tensão que nos cercava. Ela passava segurança, mas suas mãos não. Suas mãos suavam pelo meu corpo enquanto eu a despia e a cercava de dentes. Uma marca de cigarro que antes não tinha. Um olhar triste que eu não conhecia. Ela respirava em cima de mim.

- Você não deveria ter me encontrado.
- Você não deveria ter vindo para um lugar tão óbvio.
- Talvez no fundo eu quisesse...
- Pensei que fosse ficar em Champs-Élysées¹. Combina com você.
- Pensei em ficar lá. Mas combina com você.
- Sabia que iria te encontrar por aqui.
- Viva la résistance!

Uma longa pausa. Um longo beijo. Ela diz o óbvio:
- Eu vou embora.
- Pra onde?
- Pra longe.
- Eu acho que também vou. Alemanha ou Amsterdã, ainda não sei... Fiquei tempo demais aqui.
- A Alemanha engorda. E vai te partir o coração.
- Mais do que você eu acho que não.

Ela levanta. Pego três flores de mostarda e coloco em seus cabelos. Ela fica perfeitamente bela vestida só com flores. Como Paris. Eu não queria deixar a França, e não queria deixá-la. Mas que escolhas eu tenho? Ela sabe porquê estou aqui, que escolhas eu tenho?...

Silêncio.

- Quer ver a visão que eu tenho de Paris? - Ela concorda com a cabeça. Pego em sua mão e caminho em direção à sacada. Então, no meio do caminho, coloco-a em frente a um espelho e a abraço por trás. Dançamos a noite inteira. A última de várias outras últimas.
























¹. Champs-Élysées é uma larga avenida em Paris. É também uma das ruas mais famosas no mundo. O nome refere-se aos Campos Elísios, que na mitologia grega significa o Reino dos Mortos, onde só entrava as almas dos heróis, santos sacerdotes, poetas e deuses.

5 de março de 2008

Absorva

Dias infinitos. Esse é o segredo da madrugada, ser outro dia independente dentro de todo dia. A trilogia do café ao vivo e a cores, postada tudo ao tempo que acontece, escrita sem revisão e sem direito a cortes, 1 pra 1, sabe como é?
































"vai, me absorve que hoje eu quero ser só seu

me dissolve e mexe com a colher"

Made In the Dark

Leia-me ao vivo. Meu coração tem tanto a dizer, meu estômago tantas borboletas a voar. Meu café em pó no meu nariz, meu rosto solúvel. Meus olhos involutariamente piscam e eu perco preciosidades. Que besteira, eles mentem verdades e abertos enxergam o infinito. Ainda é pouco. Agora eu quero o que for mais bonito.

Sinto passear lentamente formigas construindo o formigueiro em mim. Sou tua estrada mal-criada, inacabada. in acabada. Beija-me, sinta o gosto do meu café pela última vez. Lembre-se, será a última vez. Feitos no breu, olhos fechados encontram suspense, muitas vezes murros, muitas vezes muros. As últimas xícaras são sempre mais saborosas, e as bocas no escuro, do que somos feitos. Não deixa esfriar, beba-me.

Anda, bebi tudo, agora lê meu futuro! No fundo, borrões descrentes. Mas eu não sei ler borra de café, não vejo nada. Exatamente! Enxergo tudo embaixo do negro mar. Negro. Na superfície, eu não vejo, ela também nada. E se afoga em mim. Que amargo bom. A vida também é assim, tem seu gosto dependendo do grão.

Encontro multidões em torrados. Mastigo todos na tentativa de diminuir o mundo. Aumentar meu amargo profundo. Açúcar ou adoçante? Não, não, obrigado. Um cigarro, mas eu não fumo.



Um trago eu trago e morro.



Mas é só por alguns segundos. Logo mais acordo pro café.

One More Cup of Coffee



Tem dias que só ele me mantém de olhos abertos, não que eu esteja realmente vendo alguma coisa. Mas eu os mantenho assim para evitar chamar atenção. Tem dias em que eu desejo desaparecer feito espuma no espresso, simplesmente misturar e sumir. Encher uma banheira inteira de água preta e ali jazer.

Café, o grande clichê, clichezão. Hun, foda-se. Ele reflete a minha dor e me mantém acordado para doer mais. Reflete meus olhos tristes e profundos, ahhh aquela carinha de merda... Não me deixa confortar, confrontar.

Quanto mais tempo comigo mesmo mais cansado fico. Mais cheio de mim. Quero beber outra pessoa. Quero beber e morrer qualquer coisa. Minha cabeça não pára de doer, é aquele maldito relógio em contagem regressiva. Tic, tac, tic-tac-tic... Há tanto em meu estômago, tanto a dizer. Minha voz incessante... Treme com meu medo. Treme com meu medo!



Tudo é negro.

4 Minute Warning

Cacos e sangue. Era só um copo. Não, não. Era uma xícara de café. O sangue no chão era café! As minhas mãos eram todas café. Aquele chão de vidro sujo fazia meu confessionário. Era o colo de minha avó, o seu abraço. Todas aquelas conversas inúteis rondavam meu espaço. Nada produtivo, só inutilidades gratuitas. A água do chuveiro era marrom, e me mantinha acordado.

Eu me procurava em alguns reflexos. Nossos sonhos nunca irão se realizar. As conversas de banheiro...
- Sabe, às vezes eu me olho no espelho e me sinto um total imbecil.
O outro - Sério? Pelo menos você não tá sozinho, o cara do outro lado sente a mesma coisa, hahaha. - Ri pela criatividade maldosa. Pelo menos eu não estou sozinho. [Oba, otimismo(sarcástico{ahhh, mas é engraçado, vai?!})]

Aquele sangue, senhores, era meu. Mas ninguém parou pra ver. Aquele café... Quem eu quero enganar?, não havia café algum. Era um chão de lanças pontiagudas, minha cama. Era sangue, meu banho. O jantar era minha carne. Eu comia meu corpo e era só. Quebrar tudo foi (quase) um acidente. Ficar ali foi opcional. E dói. Está doendo como se os cacos fossem de meu coração partido. Como se meu coração fosse puro vidro.

E todos fazem a mesma pergunta: De que diabos ele está falando? Eu não sei... Eu também não sei. Mas é tudo verdade. Aconteceu e só eu.
































"Eu não quero ouvir,
eu não quero saber,
Eu só quero correr e me esconder"

4 de março de 2008

Alfa Doce Venus

Vamos falar dos assuntos astutos
Da paixão que nos ferve a euforia dos sentidos
Vamos esquecer a razão do tudo,
E lembrar que não se divide o mundo.
Vamos falar do sussurro da alma
Que a pleno silêncio nos fala.
Vamos celebrar o passado
Presenteando o futuro
Vamos à raiz da sagacidade
Vamos falar do amor de verdade
Pois só inteligente se torna
Aquele que é capaz de amar em um mundo
Onde a desilusão de ódio às vezes ofusca
A imensidão do amar.
(Alecs Brasil)

***

Na tarde, no banco, na amizade.

2 de março de 2008

Quem É de Verdade Sabe Quem É de Mentira

Nas diferenças mora a igualdade. "Quem é de verdade sabe quem é de mentira"¹. Mas qual é a verdade, senão a nossa, aquela que nunca é dita? Aquela verdade que não é uma qualquer, naquela cidade que todo mundo vai falar que não é.

Verdades ditas nas bitucas de cigarro e nas garrafas divididas. Costurando palavras em abertas feridas. Encontrando verdades em olhares cúmplices nas mesas esquecidas. Soluções diluídas em almas fudidas. Passado, presente e futuro se cruzam em qualquer lugar da vida.

Cigarro cigarro. Bebida bebida O rock'n'roll e risadas acompanham a trilha. Nós largados nessa cidade, cidade nossa de ruas perdidas. A luz amarela, a cidade alerta, a mesa de bar e o cheiro da brisa. O copo vazio, a fumaça levada, a verdade criada é o que vira.

"Quem é de verdade sabe quem é de mentira."



¹. Frase de uma música homônima do Mamelo Sound System.

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Texto escrito por YuЯi Kiddo e Zu-zu-zuellen Santana, do
Claritromicina, numa mesa de bar, ao acaso... assim, simples assim.

1 de março de 2008

Nem tudo é real

Questiono as pessoas quando afirmam desejar algo desde sempre. Mas descobri que cada um tem seu sempre, seu início e seu desejo vital. Descobri que eu, também, tenho uma vontade presente em mim há muito tempo: ser mãe.

Seja qual for o rumo da minha vida, este destino já está escrito, meu íntimo segredo. Ter algo no mundo, viver a ternura e plenitude de um amor incondicional, fornecer a alguém as coisas mais belas que o mundo carrega. Gerar vida, dar vida, permitir a vida. Sei que nada fará realmente sentido até ter meus filhos. Vê-los nascer, parte de mim, minha melhor parte...

Será minha melhor parte, farei de tudo para ser minha melhor parte. Moldarei o mundo para que você, meu sangue, caiba sem se arranhar. Deixarei o mundo te moldar, pois há grande beleza, sábia beleza na natureza. E, claro, você também moldará o mundo. Assim como eu o moldei.

Saiba que fiz meu melhor para deixá-lo mais aconchegante o possível. Plantei minhas melhores sementes, e você é uma delas. A que germinou com mais forças. Como não seria assim, se foi em você que investi as belas sinceridades da vida. Me doei, fiz o que pude e continuarei a nutrir. Sei que vou te amar um amor que me faltou, um amor novo que preciso conhecer. Quero todos os amores do mundo, mas ainda me falta você. Me falta você.

Tudo tem sua hora. Meu filho, você também terá a sua.
***
Nem tudo é real e a ingenuidade continua a viver sua genial ignorância.

[Vida Besta!]


What Else is There