Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

30 de novembro de 2009

Descanse em Paz (Killer Cars)

Duas luzes à minha direita. Pisco. Ela está maior, agora é uma só. Gotas de vidro caem do céu e espelho da superfície. Barulho de borracha no asfalto, os freios desistiram. Pisco. Ela vem em meu encontro. Cumpre o prometido e me derruba. Luzes feitas de ferro pesado, motor e poluição. Vejo meu reflexo cada vez mais perto em direção às ruínas. Do chão, outras luzes, dessa vez mais serenas. Olho atentamente como sibilam, elas me olham de volta.

Eu não tive medo, não me assustei. É um perigo para a vida, não temer a Morte. Minha vida não passou diante dos meus olhos, não desta vez. Talvez algo maior em mim soubesse que não ia dessa pra melhor. Não desta vez. Mas por alguns instantes me vi livre das responsabilidades, das dívidas, da faculdade, do trabalho, e de toda gente chata que me rodeia onde quer que eu vá. A desejei. Faça parecer um acidente – sussurrei em seu ouvido, um segredo só de nós dois.

Toda vez será a última. Sinto meu corpo jazer na estrada, descanso no asfalto molhado e quente. Meu leito. Um piscar mais longo, e outro. Até não mais. Aqui quero descansar em paz.






[mas ainda não foi desta vez]

24 de novembro de 2009

Pertences

Uma das coisas que eu mais tenho prazer em fazer é segurar as bolsas dos passageiros no ônibus. Não para que me achem uma alma caridosa, mas para roubar-lhes os pertences. Sou cleptomaníaca, mesmo não achando isso uma mania.

Comecei pequena. Desviando moedas do cofre do meu irmão para comprar coisas. Mas por que roubar para comprar? Vamos roubar o que se quer comprar. Roubei brinquedos dos amiguinhos, aqueles que eu gostaria de ter e poderia comprar. Depois, roubei o que iria comprar. Roubei de lojas, mas não era tão legal quanto de lugares onde as coisas não estavam à venda.

Cresci e encontrei outros meios de ter o que queria. Roubar iguarias das vias públicas, cones de tráfego, tijolos de asfaltos, placas, artigos esportivos de clubes, martelinhos para quebrar o vidro em caso de incêndio. Inutilidades, diria.

Hoje, roubo as bolsas confiadas a mim no ônibus. Não é genial? Praticamente, não é um furto, já que, durante certo tempo de viagem, os pertences a mim pertencem.

23 de novembro de 2009

Sem dia seguinte (Protège moi)

Noite quente. O ventilador fazia vento de chuva só para nos cobrirmos e procurarmos calor um no outro. Fingi dormir só para vê-la dormir primeiro e sentir seu corpo descansar sobre o meu. Para onde Morpheus a leva? E eu, fiquei pensando, pra onde vou quando meus olhos se fecham?

Ouvi um barulho estranho no quarto. Acordei e ela não estava mais ao meu lado. Do mesmo lado que havia dormido. Entrei pela porta do quarto e a vi de quatro dando para outros caras, com outros em volta. Homens que me destroem. “Me fode. Eu te Amo”. Eu não existia mais ali, pra ela. Ali. Ela não me enxergava mais, eu não era mais. Minhas mãos tremiam desejando arder em sua pele, minha boca batia os dentes querendo dizer, meus olhos choravam um ódio velho, minhas forças... Eu não as tinha.

Acordei do pesadelo horrível com o nariz enterrado em seus cabelos negros e cheirosos. Alívio. “Que foi, amor?”. Nada, não foi nada. Ela então se vira pra mim deixando mostrar pela camisetinha folgada o bico do seio direito, o meu favorito - aquele com a pintinha, o que me hipnotiza, aquele que sempre me diz “me chupa” - e começa a me xingar, dizendo que eu não presto, que não valho nada, que eu sou um filho da puta. Eu fico tão abalado que acredito. Quando quem você ama te fere, nada resta exceto ser ferido.

O que eu sinto nas situações é tão desesperador e decadente que eu desejo morrer. Ou acordar. Meu corpo, para me proteger, escolhe a segunda opção. Acordo. Ela deitada em cima do meu braço acorda também. Eu lacrimejava e limpava os olhos e o suor. “Que foi, amor?”. Nada, não foi nada. Um pesadelo. Com nada que valha a pena, preciso ir ao banheiro. Levanto e vou desconfiado até a pia. Me olho no espelho. Será outro sonho? Quem é você? No reflexo só eu mesmo, um eu que eu não vejo. Um eu que só eu vejo. Procuro algo que me acorde. Procuro algo que me mate e só encontro a mim mesmo. Aos meus pés, percebo uma poça d’água e afundo, do quarto ela me chama preocupada “amor?”, sua voz se mistura a tudo e sinto que vou desmaiar. Não respondo. Sento na privada e respiro fundo. Não posso desmaiar. Alguém já desmaiou no sonho? É possível sonhar dentro de outro sonhar. É possível controlar a perda dos sentidos. O que faz sentido quando se perde a realidade? O que faz sentido no que chamamos de real?

Cambaleio até o quarto. A questiono sobre as brigas que não aconteceram. Ela me abraça e disse que tudo foi mentira, um pesadelo. E se agora também for um sonho? Não explico nada, só quero caber em seu abraço. Ela me beija e sinto o conforto de seu carinho amansando o animal assustado. É como me sinto, indefeso e cego em só poder acreditar em todos além de mim. Eu além de mim soa tão melhor.

Fazemos amor, nos juramos amor. Se dessa vez é sonho, não quero acordar. Quero viver sem dia seguinte, um sonho dentro de outro sonho. Um sonho após outro sonho. Paz no caos das minhas ideias. Afundo no colchão grudado nela com medo de cair novamente em minhas armadilhas. Mas ela está lá para me proteger de mim mesmo. Boa noite, amor. Te amo.

20 de novembro de 2009

O Homem Mau Dorme Bem

Numa dessas madrugadas de Lua vermelha fico inquieto, irritado, ansioso, sensível, romântico. Nunca consigo dormir. Nesses momentos, tiro a roupa, ponho uma música, escrevo rascunhos jogados pelo quarto, ótimas ideias para textos que nunca vão acontecer. Ponho a roupa de novo e saio.

Numa dessas madrugadas de Lua vermelha eu saí de andada para tentar te encontrar, como se fosse minha
Risoflora. Os cachorros latiam presos nas grades das casas, construção em cima de construção. Seus corpos ainda sem forças para atravessar paredes, mas não os seus uivos.

O asfalto ondula e desequilibra minhas pernas incansáveis. Só um dejá vù - quando se usa muitas substâncias ilícitas, às vezes o efeito volta mesmo sem ter usado nada, tome nota - As ruas são escuras, mas não guardam segredos àqueles que a pertecem. Uivo libertando o lobo dentro de mim, que por tanto tempo amarrei à rédeas curtas. Os cães me acompanham. A neblina baixa da Natureza me traz a Morte. Deparo com uma cadela caída no asfalto. Seu corpo não parecia machucado ou cansado, ela só não respirava mais. Dois filhotes, provavelmente seus filhos, e ratos, mamavam na mãe morta. Deitei a seu lado e também me banhei de seu leite.
Matei minha sede.

No caminho a Natureza morta crescia em meus passos. Eu achava que tinha o domínio de algo maior que eu. O santo negro e pecador sussurrava doces venenos. Voltei onde meu sangue dormia e ateei fogo em tudo. Deitei em minha cama vazia e deparei com a decadência de uma alma morta.
Tranquilidade na clareira do caos. Vi minha casa em chamas e fiquei pensando que, se eu pudesse salvar alguém, eu salvaria o fogo.

Dormi com os anjos.

Calor

Está tão calor que eu queria derreter
evaporar
e chover
chover





















---------------------------------
Twitter é para os fracos ;)

15 de novembro de 2009

O que eu aprendi no Hospital do Rim e Hipertensão

Primeiras impressões são impactantes e, por isso, muitas vezes ficamos confinados a elas. Mas antes que isso, estas impressões são sempre nosso ponto de partida, seja para uma ação, para uma postura ou um ideal. Neste semestre, tive primeiras impressões relacionadas às milhares de facetas que este estágio possui. Uma relacionada à aparência do hospital, que impressiona muito: organizado, bonito, impecável. Não é por menos que é um dos mais importantes na área – se não o mais. Seguida desta impressão, veio a vista da sala que se tornara minha e de meus colegas por um semestre. Aparte das belíssimas obras dispostas em diversos cantos da empoeirada salinha, víamos uma antítese ao restante do hospital: como se fechada há muito, cheirava e estava suja, além de aparentar completa desorganização dos cativantes materiais. Vi trabalho e um grande potencial.

As semanas se seguiram e as primeiras impressões se mantinham. Eu já pensava que era tempo de desfazê-las (as negativas somente) e concretizá-las nos potenciais imaginados por esta nova equipe, que contava com uma novidade: uma profissional da saúde mental como uma ponte entre nós, ingênuos estagiários, e a instituição. Desta forma, pensamos que provavelmente iríamos conseguir colocar em prática o que aprendemos em toda a faculdade, especialmente nas aulas voltadas à área hospitalar. Pensamos estar mais próximos ao ideal de uma equipe multidisciplinar, que, através da cooperação entre as funções, conseguiria realizar o objetivo de todos estes profissionais: cuidar e promover saúde, nos mais diversos aspectos.

A teoria, porém, diferiu muito da prática. Deparamo-nos com uma grande carga de atravessamentos institucionais, de dificuldades pessoais e com a realidade de um hospital. Ao passearmos com nossos jalecos brancos entre médicos e enfermeiros pelos corredores e elevadores, tornamo-nos verdadeiros fantasmas. Era como se exalássemos inocência e inexperiência, algo percebido por todos e respondido com ignorância ou, quando nos fazíamos presentes com perguntas, com uma rápida réplica “quem é você?”. E ao me apresentar como estagiária de psicologia na Oficina de Artes, não imagino qual destas palavras desencadeava o tom do tratamento ríspido.

Esta é a realidade do hospital, a meu ver, um ambiente muito cruel. Cruel por estas categorizações de acordo com seu papel na instituição, mesmo quando não muito claro - o que te torna um profissional visto como desnecessário. Cruel mesmo quando muito claro, como enfermeiros, abarrotados de funções, responsáveis por coordenar o tratamento dos pacientes e os diálogos entre médicos e técnicos em enfermagem. Cruel também com os médicos, para os quais cabe a difícil tarefa de cuidar de vidas num nível extremamente complexo: ou vida, ou morte. Além de cruel com os usuários do serviço, pois são raros aqueles que vão ao hospital não estando em sofrimento.

Então, por que estávamos lá? Se aos funcionários parecíamos inúteis ou, até mesmo, inconvenientes, nós entendemos que as mazelas físicas não se dissociam das subjetivas, há sempre uma percepção do que se passa. Eis o porquê dos psicólogos: auxiliar na significação que o paciente atribui ao adoecimento. E uma Oficina de Artes parece um bom momento para propiciar este processo, pois recoloca o paciente numa posição ativa, atuando sobre o mundo, e não mais como um ser passivo dos tratamentos médicos. Oferecemos um ambiente diferente, com objetos e cores incomuns ao cotidiano branco, azul-pálido e bege ao qual eles estão acostumados.

Por um breve período de tempo, os pacientes conversam, conosco ou entre si, sobre a vida dentro e fora do hospital. Aqueles das enfermarias coletivas trocam reclamações e piadas mais facilmente que aqueles pacientes dos quartos menores, mais isolados do chamado “agito”. Alguns pedem para serem remanejados e deixar o que parece ser mais um isolamento do mundo. Os pacientes mais quietos demoram mais para se soltar e comumente respondem somente ao que lhes é perguntado. Penso que temem que sejamos mais uns médicos de jalecos, que passam lendo prontuários sem nem trocar um “bom dia” com o indivíduo deitado no leito. Mas aos poucos percebem nossa abordagem diferenciada, nossa atenção e interesse ao que eles têm a dizer. Interesse muito mais voltado à vida que têm e não à doença – disso, eles já estão cansados de ouvir e falar. Conversamos sobre a vida lá fora, os prazeres, as vontades, o que faziam e o que querem fazer. Inevitavelmente, fala-se da doença. Mas é claro! Pacientes crônicos, como estes, têm como parte da identidade ser pacientes renais. Sem nunca deixarem de ser pessoas com diversas possibilidades. Afinal, todos nós temos nossos contratempos na vida.

Com cada paciente, reformulávamos nossas abordagens. Uns queriam conversar mais, reclamar do hospital, reclamar que queriam ir embora, usando o humor para lidar com estes assuntos tão carregados de angústias e ansiedades. Os assuntos mais sérios surgiam em momentos mais íntimos, longe do grupo. Revelava-se a vida antes da doença, o descobrimento, os medos e as superações. Com outros, falávamos com foco alheio à doença, pois era isso que precisavam, ser vistos como muito mais que pacientes. E alguns conversavam como podiam, no silêncio, mas ainda presentes.

Fomos lidando, aos poucos, com as novidades do hospital, os novos aspectos que caracterizam o trabalho nesta instituição, os novos pacientes, os novos desconfortos e as alegrias. Reflito agora como sempre há novidades neste mundo que, na verdade, se repete e se mantém o mesmo. Sempre existirão pacientes com as mesmas queixas, sempre existirão obstáculos institucionais, sempre existirão diferenças profissionais. Mas aprendi que isto não é motivo para não se reinventar, procurar novas saídas e buscar um ideal no qual se acredita. Não se pergunta “para que uma Oficina de Artes?”, mas sim “por que não uma Oficina de Artes?”. Além do mais, ser cego não significa que não se possa mais jogar um jogo da memória.

13 de novembro de 2009

Eu nunca senti [tanto] a sua falta

Naquela mesa
há um espaço que você deixou.
Nas lembranças
as histórias que você não contou.
E eu,

fiquei

esperando.

Se eu soubesse da sua partida,
teria feito o mesmo muito antes
dado parte da minha vida.
Não deu tempo,
não teve jeito.
Ficou assim,
sem solução
soluçando
em meu peito.

Sobrou a sombra do espaço,
ocupando o velório antecipado.
Se a culpa não é nossa,
[como você dizia,]
porque me sinto tão culpado?

Até parece
que o peso
do pesar
pesou
sem avisar.

Veio
assim
assim,
mansinho doído,
que carrego comigo,
antecipando o meu
fim.

O que sobrou
demonstra
a sua indiferença.
Eu nunca senti
Sua presença

O que sobrou
ressalta
eu nunca senti
[tanto]
sua falta.



Feliz Aniversário
.

11 de novembro de 2009

Tons de Cinza

A última luz que vi foi a de seu brilho. Nos despedimos como se não houvesse dia seguinte. Me abraçou e não queria mais soltar, insistiu para que eu a acompanhasse. Eu só disse

"até amanhã".

Quando tudo apagou e os celulares pararam de funcionar, pensei por um breve momento que seria uma invasão alienígena, e aí percebi que realmente acredito nessas coisas. A cegueira momentânea me fazia pensar o valor da luz. Vi pessoas correndo desnorteadas, outros fechavam ruas e roubavam carros. Assaltos, estupros, incêndios. O caos estava formado, eu andava indiferente a tudo aquilo, nada havia mudado.

Quando me deparei com o fogo, naquele momento, só quis voltar
para a escuridão.

O mundo em tons de cinza. Ando por ele e percebo detalhes do que sempre esteve ali e nunca havia enxergado. Ruas, calçadas e paredes dos prédios... Uma coisa só.

Sombra.

O escuro faz a gente querer mais.

O breu silencioso e deserto deveria trazer paz, em outras circunstâncias talvez. Eu conheço todas essas ruas, mas não sabia o caminho de casa. Eu só queria chegar em casa.

Penso nela.

Atravesso a rua em direção a esquina do meu destino e um clarão se forma trazendo à tona meu medo. Me cega de branco e quase não nos vemos, eu por ser sombra, ele por ser luz. Foi por pouco, não queria morrer naquela hora. Não sem me despedir.

Um carro atravessado na frente da minha casa. Alguém conhecido me assusta. Nenhum rosto é conhecido no escuro. E no claro? Uma surpresa desagradável. Oi.

Sem conseguir me achar, sem conseguir dormir. A luz não faz tanta diferença assim. Minha única saída foi uma vela acesa no telhado, meu violão e eu, tocando minhas autorias chatas.

Tentando fugir dos meus sonhos.


Tentando sair da sombra.



Do mundo cinza.





De mim mesmo.





Até amanhã.

10 de novembro de 2009

Acid Food

O que aconteceu depois da tempestade? Estão todos bem? A música aumenta tomando as vozes e gritos do ambiente. A devastação é constante, uma após a outra. O que foi que aconteceu dessa vez?, todos se perguntam sem se ouvir. Estava tudo indo bem... Tenso. Parece que foi uma tensão no sistema.

Ele andava entre os destroços de sua vida. Caminhos de escombros sem saída. Sem ter onde ir, vagou por dias e dias. Sem ter quem encontrar, encontrou a todos. Sem esperanças, não esperou por ninguém. Pensou estar indo embora, mas só caminhava perdido no labirinto. Sem dizer adeus, ele já não estava mais lá.

Um copo de ácido pode ser vulgar, mas é só o que pode alimentar seu espírito. Nada há para se perder. Tampouco há motivos para correr. Faminto, bebeu todo o líquido, e o copo de vidro, mastigou insatisfeito. Não havia mais jeito. Não sentia mais nada batendo em seu peito.

Num canto escuro, chorou escondido suas últimas lágrimas vivas. Sem conseguir encontrar o fim, sem poder viver grandes histórias, sem poder dizer amores... Às vezes é preciso morrer sem que ninguém saiba.

9 de novembro de 2009

Ninguém

Alguém reconhece Ninguém. Mas não conheço alguém. Ninguém não reconhece alguém. Ninguém espera nada. Alguém espera tudo. Não tenho tudo, não sou tudo. Sou algum Ninguém para alguém. Nesse caso, seria Alguém? Nada, continuo sendo Ninguém querendo nada, a não ser de Alguém.

Olhos ofuscados que escondem de Alguém o que Alguém quis saber. nesse caso, sou Alguém. Alguém-Ninguém. Alguém disse nada porque não tinha o que dizer. Em meu silêncio de Ninguém, Alguém me calou. Enquanto outro alguém gritava do outro lado tfgyc4ryh[bati no teclado para não expor Alguém]. o-quei. No que não conta, Alguém disse algo e atravessou o caminho. Ninguém percebeu, mas percebeu sozinho.

Alguém que me ama só diz, só toca Ninguém e troca palavras de carinho. Acha que Ninguém precisa saber. Alguém precisa sempre saber, mas faz mistério que toca as inseguranças de Ninguém. "Mas que tanto exige esse Ninguém? Ele acha o quê, que é alguém?". Aí percebo minha ninguénsidão.

Ninguém odeia e queria ser alguém para ter seu ódio, cansaço e asco do mundo reconhecidos. Mas Ninguém sabe, e sabendo, morre ninguém. Como previsto. Ninguém ama Alguém, ninguém sabe, Alguém sabe. Alguém podia conversar mais, não com ninguém, mas com Ninguém. Ninguém entende nada, e nesse caso, queria ser Nada para ser entendido por Alguém.

2 de novembro de 2009

Dia de Finados

Dia de finados
E eu nem fui te visitar
Eu me perdi nos dias
Nem sei mais
Qual é o meu lugar

Festejei sozinho
Com a mesa posta para dois
Deixa eu morrer só um pouquinho
A vida pode ficar para depois

Tentarei talvez
Numa próxima vez
Conhecer seu novo lar

Mas por enquanto
Vou bebendo outra taça
Em meu acalanto
Enquanto você me abraça
E me enxuga o pranto

Só me resta lamentar
Eu me perdi nos dias
Nem sei mais
Qual é o meu lugar