Sejam bem-vindos ao outro lado do espelho, onde tudo pode acontecer (e acontece).

Wonderlando é um blog sobre textos diversos, descobrimentos e crescimento. A filosofia gira em torno do acaso, misturando fantasia e realidade de dois amigos que se conheceram também por acaso, Alice - que tem um país só seu -, e Yuri - chapeleiro e maluco nas horas vagas.

Leia, comente e volte sempre... Ou faça como a gente e não saia nunca mais.

31 de maio de 2011

Sem sentido




Foi só quando eu acendi um banza que eu percebi que estava na frente da casa de um amigo de infância. E que tinha crescido ali. Um amigo que eu não via há pelo menos treze anos. A polícia passou por mim e o giroflex girava em câmera lenta. Percebi que tudo estava em câmera lenta. E que ali estava minha infância. Mas agora os muros não eram mais tão grandes assim, as casas mudaram as cores, as famílias, as rugas. Eu aprendi a ler pixação e fiquei pesado demais para aqueles galhos de amora. Para qualquer árvore. Para qualquer um. Pesado demais.


A última vez que eu pisei naquela rua não tinha nem pelo, um girino, um menino lobo. Agora tenho pelos em lugares desnecessários e não sei mais se ainda sou menino... Se só o que sobrou para ser foi lobo. O que sobrou para ser além do que sou, além da matéria. Vermelha sombra vermelha sombra vermelha sombra – o quê? A luz.


A polícia passou e nem percebeu a minha pala. Ou não quis perceber. Ou viu meus olhos mareados e não saberia resolver. Preferiu fugir a ter que me encarar. Encarar minha torrente de pensamentos e lágrimas de um olhar fosco de sonhador cansado. Sonhador cheio de insônia.

Não terminei o cigarro, nunca soube se meu amigo ainda morava ali – ou se ainda era o meu amigo. Não teve geral da polícia. Não cresci, tampouco sou menino ou lobo. Desisti de ser ou pular qualquer muro que me prendia e só continuei andando sem pontos para ligar. Sem.

Não teve espera. Teve passo. Para longe do meu passado, para onde eu não existo e sou feliz. Sou feliz nos momentos em que eu não existo. Quando os vejo sorrir sem mim. Capturados em fotos com alma, como quem tem muito a perder. Eu não tenho nada a perder, por isso sou perigoso. Mas me sinto maior. Maior que o ar. Minha mãe se contenta e sente saudade do que eu não fui e se recorda do que não vivemos. E nos encontramos quando não somos. Porque temos tanto e quase nada.


A mulher evita meu beijo no sexo, pra sonhar com outro sexo. Goza em silêncio pra não me acordar, sem perceber que ali sou eu. Alguém que não. Talvez eu é quem não tenha percebido que ali eu não existo. E minha matéria é fruto da imaginação de alguém. Um sonho triste. Que nunca.

8 de maio de 2011

Lágrimas de mãe

Seus olhos estavam lacrimejantes, sua voz falhava, o nariz começou a ficar corado e logo estava tremendo em lágrimas. Ouvidos ao telefone, só chorava a perda de si mesma refletida num doce brutamontes, seu marido. Morto. Mensagem recebida por uma linha - ligação. Filho, também baleado, passa bem... Todos, na verdade passam mal, "sobraram".

É difícil passar por ela e vê-la assim, derrubada, pisoteada pelo desgosto. Uma mulher de vida e costumes simples, humilde e generosa. Viva, não te deixava abaixar a cabeça sem que viesse com algum conselho ou um abraço maternal. Viva, agora só sobrevive.

Outra mulher vive quase diariamente a mesma situação, não aguentou a traição do marido junto com a papelada do divórcio - esse caso aí os advogados devem atender igual fast-food, é um Nº1 com fritas média e coca light... "plus". Passa horas do dia dando ouvido às asneiras dos programas da tarde na TV aberta, isso sim é decadente. Conversa com a TV, sozinha, ao telefone sem parar, só por não ter o que falar, com quem.

Tenta se recompor por meio de uma personagem forçado, se maquia para esconder e sorri em fotos, só em fotos, para quando se rever no futuro tentar se lembrar de felicidades que não existiram. Sai com homens fúteis que completam seu papel fútil de imitação barata de novela. Os filhos aguardam sua morte, ela também.

Teve um outro caso de uma mãe que, mas ah, por aí vai...

Feliz Dia das Mães!

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Esse texto não tinha intenção nenhuma de ser para dia das mães, era sobre mulheres que eu conheço, casos verídicos que eu comecei a escrever em março sem saber direito aonde ir e resolvi postar.

4 de maio de 2011

Treinando Pra Ser Chuva (Lágrimas Psicodélicas parte 1)

Me ouvi chorar naquele mar de lágrimas psicodélicas que era o fim do último dia. O sol se despedia vermelho e sincero enquanto a lua surgia bem alimentada pela luz. Navegava para lugar nenhum procurando um recanto para meu sonhar infinito...

O gosto de chumbo indicava o quão longe eu estava a caminho do centro da Terra, para nadar nas lavas ferventes da desgraça. A felicidade é aquarela fresca que se mistura e escorre da tela. Até manchar tudo, sujar tudo, bagunçar tudo, para deixar nada. Uma arte falha.

No fundo imundo escuro não me vi sozinho, um monte de outros eus, vocês, nossas mães, nossos filhos, semelhantes, amigos... Todos nós desatados...

Mas você dançava a beira-mar as batidas de um coração que não cansa de ter esperança, enquanto que meu descompasso desajeitado me fez afundar cada vez mais nos oceanos do meu mundo. Afundei sorrindo pra você e sumi.




Me acabei em sal e
c
h
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v
i
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